O prefeito Fernando Haddad não se emenda. Não tem jeito. Ele
parece desconhecer o bê-á-bá da civilidade, que se pauta pelo respeito às leis,
pela independência entre os Poderes, pela observância das normas democraticamente
pactuadas.
Ontem, mais uma vez, movimentos de sem-teto infernizaram a
vida da cidade de São Paulo. Na liderança, o tal MTST, Movimento dos
Trabalhadores Sem-Teto. Se trabalham, parece que resolveram faltar.
O que fez Haddad? Poderia, por exemplo, ter recebido uma
comissão para negociar. Mas ele estava a fim, como diz a meninada, de “causar”.
Desceu de seu gabinete e decidiu subir no caminhão de som dos autointitulados
sem-teto. E sabem o que ele fez? Disse que atenderia à reivindicação que eles
faziam se a Câmara dos Vereadores aprovar o Plano Diretor. Ou por outra: o
prefeito usou o MTST para chantagear e pressionar os vereadores.
E qual era a reivindicação da turma? Que uma área invadida,
de preservação ambiental, chamada Nova Palestina, seja destinada oficialmente a
moradias. Há um decreto do ex-prefeito Gilberto Kassab que transforma o imenso
terreno num parque. Haddad disse que revogaria o texto se os vereadores
aprovassem o Plano Diretor. Ora, o que fizeram os sem-teto? Aplaudiram o
valente e se dirigiram imediatamente para a Câmara dos Vereadores.
O próprio Haddad entendia que a área, vizinha à represa
Guarapiranga e ainda coberta por um trecho de mata atlântica nativa, deveria
ser destinada à preservação ambiental. Mas sabem como é… A popularidade do
homem está em baixa. Em algum lugar, ele tem de se encostar. E a ordem do PT é
se reaproximar o máximo possível dos ditos movimentos sociais.
Assim, vejam que fabuloso: nesta quarta-feira, o senhor
Fernando Haddad disse ao MTST que causar severos transtornos na cidade por nove
horas vale a pena e merece compensação; estimulou que novas áreas de
preservação ambiental sejam invadidas e ainda jogou os manifestantes contra os
vereadores.
A ruindade deste senhor à frente da Prefeitura de São Paulo,
estou certo, ainda será matéria de curiosidade científica; ainda será estudada
nas universidades; ainda renderá teses de doutorado.
Já escrevi aqui mais de uma vez que eventuais
confrontos dos movimentos de sem-teto com Haddad são meramente episódicos. Eles
são aliados. Ter a PT à frente do Poder Executivo, em qualquer esfera,
municipal, estadual ou federal, significa ter o Poder Público refém dos
movimentos dos sem-alguma coisa: sem-teto, sem-terra, sem-isso, sem-aquilo. A
reivindicação é legítima. Paralisar a cidade para impor uma pauta de
reivindicações, não. Mas Haddad, como se vê, estimula a bagunça.
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