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quarta-feira, 19 de março de 2014

Especulação imobiliária sobe do asfalto para a favela


Com o objetivo de discutir os preços abusivos e conscientizar a população, aconteceu
nesta terça-feira (18) a primeira edição do  “Fala Vidigal: Ciclo de Debates”
A alta dos preços também decepciona os moradores mais antigos das comunidades. O turismo incentivou os comerciantes a elevarem os preços de seus produtos. Contudo, Marcelo ressalta que “a maioria das pessoas que está no Vidigal, mora aqui, e nem todos conseguem ou querem arcar com essas altas”. Outro ponto levantado pelo presidente da Associação é que “o morador antigo sempre sonhou com a pacificação e os seus benefícios, mas agora nem todos podem aproveitar porque não podem mais ficar aqui”.

Marcelo também acredita que o perfil do Vidigal está mudando. Ele conta que o Pico dos Irmãos está se tornando um dos maiores pontos turísticos da comunidade, mas ainda não possui estrutura suficiente para atender os visitantes. Outro ponto delicado são as edificações que estão sendo construídas em áreas de forte turismo. “Elas podem atrapalhar a vista do Vidigal, que é um dos seus maiores atrativos. Algumas pessoas compraram terrenos próximos ao Mirante e nosso pedido é que elas não elevem essas construções”.

Assim como o Vidigal, outras comunidades estão sofrendo os reflexos da especulação imobiliária. Na Zona Sul, a alta dos preços é mais visível. No Morro dos Cabritos, o aluguel de um quitinete ultrapassa os mil reais, segundo o presidente da Associação de Moradores, Danilo Ferreira de Souza. “Muita gente do asfalto veio pra favela, inclusive estrangeiros. Pessoas que saíram com medo da violência, voltaram. Os serviços públicos são insuficientes para atender essa demanda. Questões básicas, como coleta de lixo e saneamento precisam ser adaptadas para atender a todos com qualidade”, conta o presidente. Danilo ressaltou também o aumento no número de estabelecimentos comerciais na comunidade, principalmente bares e restaurantes.

No Morro da Babilônia, o preço do comércio seguiu o fluxo dos imóveis. O presidente da Associação de Moradores, Carlos Palô, previne: “hoje em dia, se você vier almoçar aqui, venha com dinheiro. Se não, você não vai conseguir comer. Os preços estão lá em cima”. Ele também acredita que “todas as comunidades pacificadas estão passando pela especulação imobiliária”. Palô conta que, as pessoas que optaram por vender seus imóveis, conseguiram fazê-lo por preços altos. Aqueles que resolvem alugar, também conseguem cobrar mensalidades generosas. “A comunidade mudou e as pessoas mudaram. Tem gente que veio morar de aluguel, gente que não é nativa da comunidade, até mesmo estrangeiros”, explicou o presidente.

No Cantagalo, a chegada dos estrangeiros também chama a atenção e mostra uma das maiores dualidades da especulação: enquanto os moradores da comunidade não conseguem pagar os alugueis, a classe média fica atraída pela possibilidade de pagar barato e continuar morando na Zona Sul. Atraídos pelos preços e pela ideia de pacificação, os novos moradores optam por alugar ou até mesmo comprar imóveis na comunidade. Conforme conta Luiz Bezerra, presidente da Associação de Moradores do Cantagalo, “moradores que saíram, estão querendo voltar e muita gente nova está alugando casa aqui”. Para ele, “os preços realmente estão fora dos limites. O aluguel e o valor de venda das casas triplicaram. Muita gente que queria se mudar e não conseguia um preço justo pelo seu imóvel aproveitou a oportunidade e vendeu por mais que imaginava”.

*Do Projeto de Estágio do Jornal do Brasil

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