Por Eduardo Jorge
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domingo, 19 de outubro de 2014
NÃO HÁ MAL QUE SEMPRE DURE
Por Percival Puggina
A partir de 1930, superados os tempos em que as divergências
políticas se resolviam com a mão no sabre ou o dedo no gatilho, a política
rio-grandense foi crescendo em civilidade. Eram fortes os confrontos entre PSD
e PTB, entre Arena e MDB, entre PDS e PMDB, mas a convivência se mantinha em limites
razoáveis.
Graças a isso, minha
geração nunca presenciou um antipetebismo, um antipedessismo, um antiarenismo
ou um antipeemedebismo. Daí uma certa surpresa com o surgimento do antipetismo,
força política com inusitada disposição para agir, tanto no campo da produção
intelectual quanto na militância de rua. Sobrepondo-se aos partidos, o
antipetismo desempenhou papel decisivo na sucessão estadual gaúcha de 2002,
definindo as surpreendentes oscilações que se observaram ao longo do processo
eleitoral.
Todos os analistas que se debruçaram sobre aquele pleito,
dentro e fora do PT, foram unânimes em sublinhar esse fenômeno. Tarso Genro,
então derrotado, também atribuiu ao antipetismo o resultado da eleição. O
cientista político Giusti Tavares qualificou tal dito como tautológico,
equivalendo a dizer que o PT perdeu porque seu adversário ganhou.
Nestes dias, estamos assistindo o antipetismo surgir como
força política dominante em diversas unidades da Federação. Foi ela que
primeiro viu em Marina Silva uma possibilidade de interromper a hegemonia
petista no pleito de outubro. Foi ela que, tão logo o petismo fez os estragos
de costume na imagem da acreana, mudou-se para o Aécio Neves, produzindo a
reviravolta contada pelas urnas do dia 5 deste mês. É ela que agora, no Rio
Grande do Sul, se mobiliza para impedir a reeleição de Tarso Genro. É ela que,
nacionalmente, motiva a ação da oposição mais visível ao governo Dilma exercida
por intelectuais e jornalistas com acesso a alguns meios de comunicação. E é
ela que proporciona uma intensa mobilização oposicionista de massa, cotidiana e
diuturna nas redes sociais. O antipetismo encontrou nessa nova mídia, tão
caseira quanto universal, uma ferramenta de difusão de informações, de ditos e
contraditos, assumindo à conta própria, aquilo que a oposição
político-partidária não consegue fazer.
O antipetismo, escrevi em artigo publicado no Correio do
Povo em 27 de março de 2003, é a tempestade colhida pelos semeadores de ventos.
Quem observou a conduta dos candidatos presidenciais nos debates da
Bandeirantes e do SBT pode apreciar nas falas da presidente Dilma (e nas
ensandecidas falas de Lula nos últimos dias) o modo de agir do petismo. Porque
deixa de lado a ética, a verdade e o interesse nacional, essa conduta, com o
tempo, concede ainda maior vigor aos que a ela e a seu partido se opõem. No
coração do petismo se vai produzindo a lesão que, com o tempo, debilitará o
partido e o levará à derrota.
Quantas e quantas vezes, nos últimos 12 anos, em artigos,
vídeos e palestras, chamei a atenção para a descontinuidade entre o furor
acusatório do PT contra o governo FHC e seu total desinteresse, após assumir o
poder, em investigar aqueles a quem acusara! Assim é o petismo, sempre
transformando mentiras e versões em verdades e fatos. Na oposição, bastam-lhe
os danos causados pelas acusações que faz. No governo, bastam-lhe os dividendos
do poder. Mas não há mal que sempre dure.
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Percival Puggina (69), membro da Academia Rio-Grandense de
Letras, é arquiteto, empresário e escritor e titular do site www.puggina.org,
colunista de Zero Hora e de dezenas de jornais e sites no país, autor de
Crônicas contra o totalitarismo; Cuba, a tragédia da utopia e Pombas e Gaviões,
integrante do grupo Pensar+.