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sábado, 30 de agosto de 2014

Lula e o segundo mandato de Dilma

Por Rogério Werneck
 
No primeiro programa de propaganda eleitoral do PT, há uma parte em que Lula reconhece tacitamente que Dilma tem pouco a mostrar. E tenta convencer o eleitor a lhe dar outra chance: “...Eu quero falar especialmente para você, que está em dúvida se deve votar ou não na Dilma. Eu lhe peço, vote sem nenhum receio. Fique certo de que você não vai se arrepender.”

O que desperta interesse é a argumentação utilizada. Lula começa por alegar: “O meu segundo mandato foi melhor do que o primeiro. Com Dilma, tenho certeza de que vai ser assim também. No meu segundo mandato, eu tive mais segurança, mais experiência e mais apoio para acelerar projetos que estavam em andamento e para lançar muita coisa nova.”. E, em seguida, pergunta: “Já imaginou o prejuízo que o país teria sofrido se eu não tivesse um segundo mandato? Se outro qualquer tivesse chegado querendo inventar a roda e parado quase tudo?”

Chama a atenção que, a essa altura dos acontecimentos, Lula ainda queira fazer crer que seu segundo mandato foi melhor do que o primeiro. Do ponto de vista do desempenho da política econômica, o primeiro mandato de Lula foi muito melhor do que o segundo.

Superadas as tensões da metamorfose por que teve de passar o PT na campanha eleitoral de 2002, o que se viu no primeiro governo de Lula foi a manutenção da política macroeconômica que vinha sendo adotada no governo anterior. Decisão sábia que propiciou rápida colheita de bons resultados. A partir de 2004, a economia, ajudada pelo boom de preços de commodities, passou a apresentar crescimento relativamente rápido, inflação baixa e contas externas sólidas.

Mas é compreensível que Lula não guarde boas lembranças do seu primeiro mandato. Tendo enfrentado com sucesso o desafio da política econômica, seu governo se viu às voltas com dificuldades de outra ordem, na esteira da eclosão do escândalo do mensalão, em 2005. Em meio ao turbilhão que se formou, Lula chegou a temer que, mesmo que conseguisse evitar um impeachment, sua reeleição estivesse comprometida.

Não foi o que, afinal, se viu. A crise acabou superada e, graças ao bom desempenho da economia e aos programas de redistribuição de renda, Lula conseguiu seu segundo mandato. E pôde respirar aliviado. Mas o novo governo já não era o do primeiro mandato. Ironicamente, da perspectiva da política econômica, o Lula que foi reeleito era muito diferente do de 2003. Foi ele mesmo quem “quis inventar a roda” e “parar quase tudo”.

A verdade é que, desde o mensalão, a correlação de forças dentro do governo havia mudado. A insegurança de Lula, o descabeçamento do PT e a ascensão de Dilma Rousseff à Casa Civil redundaram em crescente cerceamento do poder do ministro Antonio Palocci, como ficou mais do que claro no emblemático embate entre a Fazenda e Casa Civil, no segundo semestre de 2005, quando a proposta de ajuste fiscal de longo prazo foi torpedeada. O afastamento de Palocci e sua substituição por uma figura inexpressiva, em abril de 2006, abriram espaço para crescente preponderância da Casa Civil na condução da política econômica no segundo mandato.

O resto da história é bem conhecido. A política econômica passou a ter outra orientação. As mudanças, de início mais discretas, logo se tornaram mais ostensivas, quando o agravamento da crise mundial proporcionou o pretexto que faltava para o abandono dos princípios que haviam pautado a política econômica do primeiro mandato. O rumo passou a ser ditado pela “nova matriz econômica”, custosa pajelança voluntarista, engendrada no segundo mandato de Lula, cujas consequências funestas vêm sendo agora observadas com riqueza de detalhes nesse patético apagar das luzes do governo Dilma.

Lula pode até ter preferido seu segundo mandato, mas foi exatamente nesse período que a política econômica petista começou a descarrilar. O que o país tem presenciado, desde então, é o inexorável desenrolar do desastre, como num grande acidente ferroviário filmado em câmara lenta.

E Lula ainda acha que Dilma merece outra chance.


Fonte: Alerta Total


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Rogério Furquim Werneck é economista e professor da PUC-Rio.

Pânico na elite vermelha

Por Guilherme Fiuza - O Globo

Armínio Fraga foi o comandante da etapa de consolidação do Plano Real — a última coisa séria feita no Brasil

Pela primeira vez em 12 anos, os companheiros avistam a possibilidade real de ter que largar o osso. Nem a obra-prima do mensalão às vésperas da eleição de 2006 chegara a ameaçar a hegemonia dos coitados sobre a elite branca. A um mês da votação, surgem as pesquisas indicando que o PT não é mais o favorito a continuar encastelado no Planalto. Desespero total.Pode-se imaginar o movimento fervilhante nas centrais de dossiês aloprados. Há de surgir na Wikipédia o passado tenebroso dos adversários de Dilma Rousseff. Logo descobriremos que foram eles que sumiram com Amarildo, que depenaram a Petrobras, que treinaram a seleção contra os alemães. É questão de vida ou morte: como se sabe, a elite vermelha terá sérias dificuldades de sobrevivência se tiver que trabalhar. Vão “fazer o diabo”, como disse a presidente, para ganhar a eleição e não perder a gerência da boca.

O Brasil acaba de assistir à queda de um avião sobre o castelo eleitoral do PT. Questionada sobre as investigações acerca da situação legal da aeronave que caiu, Dilma respondeu que não está “acompanhando isso”, e que o assunto não é do seu “profundo interesse”. Altamente coerente. Se a presidente e seu padrinho não “acompanharam” as tragédias no governo popular — mensalão, Rosemary e grande elenco — não haveria por que terem “profundo interesse” numa tragédia que veio de fora. Eles sempre fingiram que estava tudo bem e o povo acreditou, não há por que acusar o golpe agora. Avião? Que avião?

Melhor continuar arremessando gaivotas de papel, para distrair o público. Até o ministro decorativo da Fazenda foi chamado para atirar a sua. Guido Mantega, como Dilma e toda a tropa, é militante de Lula. O filho do Brasil ordena, eles disparam. Mantega já chegou a apresentar um gráfico amestrado relacionando o PAC com o PIB — um estelionato intelectual que o Brasil, como sempre, engoliu. Agora o homem forte (?) da economia companheira entra na campanha para dizer que Armínio Fraga desrespeitou as metas de inflação. Uma gaivota pornográfica.

Para encurtar a conversa, bastaria dizer que Armínio Fraga foi um dos homens que construíram aquilo que Mantega e seu bando há anos tentam destruir. Inclusive a meta de inflação. Armínio foi o comandante da etapa de consolidação do Plano Real — última coisa séria feita no Brasil — enfrentando o efeito devastador da crise da Rússia, que teria reduzido a economia nacional a pó se ela estivesse nas mãos de um desses bravateiros com estrelinha. Mantega e padrinhos associados devem a Armínio Fraga e aos realizadores do Plano Real a vida mansa que levaram nos últimos 12 anos. E deve ser mesmo angustiante desconfiar pela primeira vez que essa moleza vai acabar.

Se debate eleitoral tivesse alguma ligação com a realidade, bastaria convidar os companheiros a citar uma medida de sua autoria que tenha ajudado a estruturar a economia brasileira. Uma única. Mas não adianta, porque, como o eleitorado viaja na maionese, basta aos petistas dizer — como passaram a última década dizendo — que eles livraram o Brasil da inflação de Fernando Henrique. A própria Dilma foi eleita em 2010 com esse humor negro, e jamais caiu no ridículo por isso. Com a fraude devidamente avalizada pelo distinto público, Guido Mantega pode se comparar a Armínio Fraga e entrar em casa sem ter que esconder o rosto.

Em meio às propostas ornamentais, aliás, Armínio é o dado concreto da corrida presidencial até aqui. Nada de poesia, de “nova política”, de arautos da “mudança” — conceito tão específico quanto “felicidade”, que enche os olhos da Primavera Burra e dos depredadores do bem. Armínio não é terceira, quarta ou quinta via, nem a mediatriz mágica entre o passado e o futuro. É um economista testado e aprovado no front governamental, que não ficará no Ministério da Fazenda transformando panfleto em gaivota.

O PSDB, como os outros partidos, adora vender contos de fadas. Mas seu candidato, Aécio Neves, resolveu anunciar previamente o seu principal ministro. Eis a sutil diferença entre o compromisso e a conversa fiada.

Marina Silva também é uma boa notícia. Só o fato de ser uma pessoa íntegra já oferece um contraponto valioso à picaretagem travestida de bondade. Nunca é tarde para o feminismo curar a ressaca dos últimos quatro anos. O que seria um governo Marina, porém, nem ela sabe. Se cumprir a promessa de Eduardo Campos e empurrar o PMDB S.A. para a oposição, que grande partido comporia a sua sustentação política? Olhe em volta e constate, com arrepios, a hipótese mais provável: ele mesmo, o PT — prontinho para a mudança, com frete e tudo.

Marina vem do PT e está no PSB, cujo ideário é de arrepiar o maior sonho cubano de José Dirceu. E tentar governar acima dos partidos foi o que Collor fez. Que forças, afinal, afiançariam as virtudes de Marina?



Olavo de Carvalho - Entrevista para o site Islamidades

Olavo de Carvalho é filósofo, escritor e jornalista e atualmente escreve para o jornal Diário do Comércio da Associação Comercial de São Paulo. É autor de vários livros, incluindo O Jardim das Aflições, O Imbecil Coletivo, O Futuro do Pensamento Brasileiro, entre outros. Também é o fundador do renomado Seminário de Filosofia.


Islamidades: Hoje um dos temas mais debatidos nos meios conservadores é a islamização da Europa. Quase sempre esta discussão é acompanhada de uma multiplicidade de posições ideológicas, desde neoconservadores até eurasianos. O fato incontestável é que a enfermidade espiritual do Velho Continente abriu as portas para a entrada do islamismo como o substituto de um cristianismo "caduco", incapaz de se apresentar de modo convincente. O surgimento de uma elite islâmica europeia parece ser a concretização daquilo que já estava contido nos escritos de Guénon e Schuon décadas passadas. Até que ponto este processo de islamização é profundo e irreversível?

Olavo de Carvalho: A penetração do Islam no Ocidente não começou com a imigração em massa, nem com o terrorismo, nem com a espetacular agitação política que se viu nas últimas décadas. Ela remonta à ação discreta de René Guénon, iniciada na segunda década do século XX e dirigida a uma elite intelectual altamente capacitada, bem longe dos olhos da mídia, dos “analistas políticos” e da maioria dos orientalistas acadêmicos. Quando Frithjof Schuon fundou nos anos 50 a tariqa que Guénon considerou o primeiro resultado significativo do seu trabalho, ela já atraiu intelectuais de primeiríssimo plano, cuja ação permaneceu discreta pelo menos até a década de 90. Foram setenta anos de conquista dos corações e mentes nas altas esferas intelectuais, políticas e financeiras.

Sem isso, a estratégia da ocupação por imigração jamais poderia ter sido levada à prática. Foi preciso, primeiro, minar a resistência nas altas esferas. O exemplo mais característico é o príncipe Charles da Inglaterra, que por intermédio de Martin Lings se tornou um discípulo de Schuon pelo menos desde a década de 80 e viria a aparecer, já no nosso século, como o maior protetor dos invasores islâmicos no seu país.

Todo esse processo passou despercebido aos analistas políticos e cientistas sociais, que até então desconheciam praticamente tudo do Islam, mas a promessa de Schuon ao voltar da Argélia e instalar sua tariqa em Lausanne foi bem explícita: “Vou islamizar a Europa”. Disse e fez. Perto dessa ação em profundidade, as ações espetaculares do aiatolá Khomeini e dos terroristas não são senão a espuma trazida pela maré. Se você me pergunta se é possível reverter o processo, respondo que sim, mas é preciso agir desde a camada profunda onde o processo começou.

Islamidades: O islamismo seria capaz de proteger-se do secularismo ocidental? Desde o séc. XIX o mundo islâmico está lutando para se adaptar ao novo contexto mundial. A ascensão do socialismo e nacionalismo árabes, como resposta de sabor europeu aos problemas concretos do Oriente Médio, mostrou-se um completo fracasso. O surgimento de grupos de libertação, como a Irmandade Muçulmana e a Revolução Islâmica no Irã, criavam mais problemas do que soluções. Ademais, desde a consolidação do wahabismo na Arábia Saudita, o “salafismo” se tornou em propulsor de anacronismos em todo o mundo islâmico. Para agravar ainda mais o cenário, o liberalismo ocidental surge como uma proposta sedutora de progresso, e cobrando a secularização da sociedade. Com este quadro formado, e analisando a “Primavera Árabe” e os seus frutos, como entender o complexo movimento de (re)conhecimento e adaptação das nações islâmicas – para não dizer Ummah – ao mundo moderno?

Olavo de Carvalho: As relações entre o Islam e o secularismo ocidental são bastante ambíguas. Por um lado, foi o secularismo que debilitou a herança cristã da civilização européia, criando um vácuo que o islamismo se oferece gentilmente para preencher. Por outro lado, a ponta de lança mais avançada do secularismo foi precisamente o movimento comunista, que armou, treinou e dirigiu não só os grupos terroristas islâmicos, desde muitas décadas atrás, mas também vários líderes políticos bem conhecidos, como Gamal Abdel Nasser e Yasser Arafat. Sobre esses dois aspectos, o secularismo embora oposto, em aparência, à ideologia islâmica, foi o grande suporte da sua penetração no ocidente. Existe, embora mais discreto e menos significativo historicamente, o reverso da medalha. Em muitos países islâmicos, a começar pelo próprio Irã, os atrativos da moderna vida ocidental, com a promessa da liberdade sexual e a sedução das drogas, inspiram alguma revolta entre os jovens, criando uma instabilidade que os governos islâmicos têm conseguido eliminar na base da repressão e da violência. As análises usuais não levam em conta essas ambiguidades, preferindo insistir na visão estereotipada de uma oposição esquemática entre “modernidade” e “fundamentalismo”.  A questão complica-se, no entanto, um pouco mais, porque justamente essa oposição, assim concebida, é usada pelos secularistas ocidentais para combater não o Islam, mas o que resta de cristianismo na sociedade européia e americana, de modo que a própria retórica modernista que verbera o “atraso” e o “fanatismo” da civilização islâmica debilita ainda mais a resistência aos invasores.

Islamidades: A mística é mais eloquente do que séculos de debates teológicos. No contexto islâmico isto é ainda mais verdadeiro quando levamos em consideração o intercâmbio entre xiitas e sunitas no sufismo. Por mais que complexas concepções doutrinais os separem, como a noção xiita da função esotérica do imamato, no campo místico o diálogo é eloquente e muitas vezes supera  as distinções. Como defendido por  Seyyed Hossein Nasr, “somente o sufismo pode alcançar esta Unidade que abraça estas duas facetas do Islam e consegue transcender as diferenças exteriores”.  A difusão da mística islâmica, ou ao menos a formação de uma elite espiritual sob a sua égide, seria fator fundamental na coesão interna do islamismo?

Olavo de Carvalho: O agressivo globalismo islâmico que aspira ao Califado universal nasce da confluência de duas correntes aparentemente incompatíveis. Por um lado, é evidente que o esoterismo “sufi” representa, ao menos virtualmente, a grande força de unificação espiritual das inúmeras correntes religiosas e ideológicas que, numa confusão dos diabos, pululam no Islam. Nesse sentido, ele é de certo modo o cérebro por trás de todo expansionismo islâmico no que ele tem de mais ligado à nostalgia das glórias passadas e ao senso messiânico que inspirou o Islam desde o começo. No século XX a influencia soviética penetrou profundamente no meio islâmico, incentivando a transformação do revanchismo anti-ocidental numa ideologia revolucionária fortalecida pela “teologia da libertação” islâmica criada por Said Qutub nos anos 30. É quase inconcebível para o observador ocidental usual atinar com uma aliança entre tradições espirituais esotéricas e o mais brutal movimento revolucionário anti-religioso de todos os tempos, mas ela aconteceu. Até hoje existe, ainda que bem controlada, essa tensão dentro do mundo islâmico, na medida em que o presente governo russo, composto quase que inteiramente de membros da mesma KGB que orquestrou a politização do islamismo seis ou sete décadas atrás, busca hoje integrar as forças islâmicas no seu projeto maior, o Império Eurasiano. Há toda uma zona de mescla, de competição e de colaboração entre “árabes” e “russos”, que até hoje não foi adequadamente mapeada pelos estudiosos. Quem vai usar o outro e quem vai ser usado é uma questão que só as próximas décadas decidirão.

Islamidades: Autores como René Guénon, a.k.a.  Shaykh 'Abd al-Wahid Yahya, Frithjof Schuon, a.k.a. Shaykh 'Isa Nur al-Din Ahmad, e Martin Lings, a.k.a. Abu Bakr Siraj Ad-Din, são alguns nomes da filosofia perene, todos convertidos ao islamismo.  Dentro do caldeirão da “unidade transcendente das religiões” a fé islâmica se sobressai como a plenitude das religiões tradicionais. Contudo, o que parecia ser apenas uma dinâmica própria de grupos esotéricos periféricos, tem se mostrado muito mais estruturada do pondo de vista prático, seja através do incremento de obras publicadas, como através da disseminação do esoterismo, principalmente nos EUA e Europa. Ademais, o perenialismo também influenciou, em aspectos que parecem obscuros, o modo como o ecumenismo moderno foi concebido.  Os pressupostos metafísicos comuns nas crenças tradicionais possibilitariam, aos olhos da Escola Perene, um “ecumenismo esotérico”, utilizando o termo consagrado por Schuon em seu livro “Christianity Islam: Perspectives On Esoteric Ecumenism”. Até onde chega a influência do perenialismo na cosmovisão religiosa moderna e na vida intelectual ocidental?

Olavo de Carvalho: O projeto de Guénon e Schuon parece fundar-se no reconhecimento da igual legitimidade de todas as tradições religiosas, porém, na medida em que toma o esoterismo islâmico como a modalidade mais alta e vigorosa de espiritualidade nas condições da época presente, ele corresponde, na prática, a colocar todas as religiões do mundo sobre a orientação discreta de uma elite espiritual islamica. Levei décadas para entender uma coisa tão óbvia. Quando Guénon, nos anos 30, disse que o Ocidente só tinha três saídas – a barbárie, a islamização ou a restauração da Igreja Católica, ele deixou bem claro que esta última alternativa deve ser conduzida sob a direção de autoridades espirituais islâmicas. A única diferença, portanto, entre as duas ultimas alternativas é a que existe entre islamizar a civilização ocidental de maneira ostensiva ou camuflada. A prática mostrou que essas duas alternativas não se excluem absolutamente. Um detalhe interessante é que toda a retórica, tanto guénoniana quanto “perenialista” ( essas duas coisas não são exatamente a mesma) se baseia na afirmação de que o esoterismo foi totalmente perdido de vista no Ocidente pelo menos desde a Renascença, reduzindo-se a religião crista, na modernidade, ao mais raso exoterismo. Daí concluíam esses doutrinários que uma injeção de sufismo era necessária para salvar o Ocidente de si mesmo e reatar os elos da civilização com as suas raízes cristãs mais remotas. Acontece que, no Ocidente, o esoterismo só foi perdido na esfera da cultura acadêmica, mas, fora dela, continuou pujante e vigoroso, inspirando praticamente todos os grandes escritores e poetas do mundo Ocidental. Também é fato que a mais alta “realização metafísica” cuja possibilidade o sufismo de Guénon e Schuon prometia trazer de volta a uma civilização extraviada, jamais foi perdida de vista na tradição católica, como se vê, claramente, pelos livros do padre Juan Gonzalez Arintero, La Evolución Mistica e Cuestiones Misticas. Em suma, o que essa gente prometia era nos dar algo que já tínhamos, com o agravante de que a doação vinha acompanhada da transferência da autoridade da Igreja Católica para as autoridades espirituais islâmicas que a dirigiriam e orientariam desde longe.




Ofício urgente e sigiloso do MPF questiona FAB se Vant Acauã bateu no jato que matou Eduardo Campos


Exclusivo - As especulações sobre o acidente de jatinho que matou Eduardo Campos em 13 de agosto ganham um novo elemento com o documento classificado como “urgente e sigiloso”, no envelope com o código PRM-STS-SP 2535/2014, enviado pelo Ministério Público Federal em Santos ao Comandante da Força Aérea Brasileira, Tenente-Brigadeiro-do-ar Juniti Saito, no último dia 25 de agosto. O documento, que vazou, gera polêmica no governo e na FAB.

No ofício 2111/2014, o Procurador da República Thiago Lacerda Nobre questiona Saito sobre a real possibilidade de um Veículo Aéreo Não-Tripulado (Vant) ter contribuído como uma das causas para a queda da aeronave Cessna 560XL, prefixo PR-AFA (que agora se sabe pertencer ao próprio Eduardo, comprada via leasing). O Palácio do Planalto e o Ministério da Defesa vão querer saber o que Saito vai informar ao MPF – que cumpriu seu papel legal e constitucional de questionar.

No material enviado ao comandante da Força Aérea, o Ministério Público Federal em Santos anexou uma fotografia e uma imagem captada por câmeras de televisão no local em que o avião caiu. Nelas aparecem as rodas semelhantes às usadas em um Vant do modelo Acauã. Por isso, o Procurador Thiago Nobre faz cinco questionamentos bem específicos ao Brigadeiro Saito pedindo que se confirme ou não que se a FAB, em tese, poderia estar realizando algum sobrevoo com Vant na hora e região do acidente, no raio da precária Base Aérea de Santos.

Incisivamente, o Procurador pergunta: quantos Acauãs a FAB tem. Indaga, também, se alguma destas aeronaves estaria perdida, por força de algum acidente. Pede que a perícia da Aeronáutica confirme se as “rodas” que aparecem nas fotos seriam, realmente, de um Vant modelo Acauã. 

Vant Acauã desenvolvido pela FAB
De concreto sobre o acidente fatal com Eduardo Campos tem-se apenas uma constatação: mudou completamente o jogo da corrida presidencial, e pode fazer a viúva política Marina Silva alçar o sonhado voo rumo ao Palácio do Planalto.

Planejando a saída

O PT já prepara sua saída do governo, com o alto risco de vitória da ex-petista Marina Silva, avaliado pelo Palácio do Planalto.

Prova disto é o recado do ministro Aloísio Mercadante, a um interlocutor recente:

“Já estamos pensando como vamos sair com um pouco de honra”.

Suprema Campanha salarial

O Globo informa que os ministros do Supremo Tribunal Federal (STF) aprovaram ontem o envio de um projeto de lei ao Congresso Nacional aumentando o salário deles mesmos.

Se aprovado, o valor que serve de teto para o funcionalismo público, pularia de R$ 29.462 para R$ 35.919.

O presidente do STF, Ricardo Lewandowski, defende um aumento de 22% para repor as perdas inflacionárias entre 2009 e 2013.

Efeito cascata

Tal reajuste aos proventos do STF tem efeito cascata no Judiciário.

O salário de ministro de tribunais superiores corresponde a 95% dos salários de ministros do STF.

O salário de presidentes de Tribunais de Justiça corresponde a 95% do valor pago a ministros de tribunais superiores.

Western Union com nova fachada

Líder em serviços globais de pagamento, a Western Union adota sua identidade visual padrão em toda a rede de lojas adquiridas do grupo Fitta, seis meses atrás, no Brasil.

O diretor presidente da Western Union Brasil, Felipe Buckup, avalia as vantagens da nova ação de marketing:

“Isso permitirá o crescimento da rede e a oferta de mais produtos e serviços de qualidade ao consumidor brasileiro. Já atuávamos fortemente no segmento de remessas internacionais e, com o acordo,  passamos a contar com novos produtos como câmbio de moeda, cartões pré-pagos e soluções de negócio para empresas. Nosso foco agora está na ampliação deste novo portfólio”.

No Brasil, a Western Union tem 22 lojas próprias e 41 correspondentes que atuam com câmbio e transferência, 112 correspondentes do produto câmbio, além de um canal telefônico para envio e recebimento de dinheiro.

Desafio do Balde do Gelo


No melhor estilo de marketagem petista, o picareta do Homer Simpson aderiu ao desafio do balde de gelo, em favor dos portadores de esclerose lateral amiotrófica... Mas seu filho Bart deu o troco no Senador Homer...

Turma do ET


Este filminho promete ser bem chato...

Flamengueira


Nome do terceiro uniforme do Mengão, em homenagem à planta Acalypha Wilkesiana, que começa a ser vendido hoje.

Briga para ficar no jogo


Distorcida

Marina, no Acre, foi um fracasso!

Na eleição para presidente da República, em 2010, Marina foi, em seu berço natal e político, o Estado do Acre, a terceira colocada no primeiro turno, quase empatando com a Dilma e perdendo de goleada para o então candidato José Serra.

 Qual o motivo? Será que no Acre o povo a conhece como de fato é: arrogante e fraca para ocupar um cargo majoritário.

 Vejam os percentuais de votos:

 Eleição de 2010 - Presidente da República (ACRE)- 1º Turno

  • 1º lugar: JOSÉ SERRA, com 52,13 % dos votos
  • 2º lugar : DILMA ROUSSEFF, com 23,92 % dos votos
  • 3º lugar: MARINA SILVA, com 23,45 % dos votos
Por favor, diga NÃO ao PT, com suas duas candidatas.



Marina Silva no poder


A eventual consagração de Marina Silva como presidente da República significará o passo final para o caos, pois a possibilidade de governança ou governabilidade tende a desaparecer.

A boutade de Abílio Diniz, o empresário que aderiu de mala e cuia ao PT, vem muito a calhar aqui: “o país não é ingovernável, mas é ‘ingerenciável’.” Esse tem sido o resultado das sucessivas administrações esquerdistas, desde 1985. Os governos Lula e Dilma aprofundaram a transformação do Estado, de tal sorte que se criou sua incapacidade gerencial, de gerenciar-se a si mesmo e de prover os serviços públicos que dele o povo espera.

Não é à toa que a inflação está voltando forte, irresistível, inexorável. Os desequilíbrios governamentais sempre se transformam, com o passar dos dias, na peste inflacionária. Podemos ver o fenômeno a olhos vistos, no Brasil, que virou um grande laboratório a céu aberto. É possível ver o que está predito por economistas sensatos quando os governos saem dos seus próprios sapatos e crescem além da conta.

Da mesma forma, a notícia sobre o encolhimento rápido das expectativas do crescimento do PIB confirma o estrago que o ímpeto petista fez sobre a realidade social e econômica brasileira. A desordem parece tomar conta de tudo e, quanto mais o faz, mais vemos o governo querendo governar tudo. Mas como o governo é “ingerenciável”, então a desordem é a consequência natural dessa expansão estatal. Puro movimento irracional.

A diferença entre os governos Lula e Dilma é que o ex-metalúrgico conseguiu se manter dentro dos parâmetros da realidade, mesmo “avançando” na agenda socialista. Já Dilma Rousseff foi mais ideológica e programática, mais “pura”, dando as costas para a realidade. O efeito econômico foi imediato e devastador, a combinação de inflação com recessão, conforme previsto nos manuais de economia. O caráter não gerenciável do mastodôntico estado se impôs com vigor. O Brasil é a Casa da Mãe Joana.

É nesse contexto que estamos, às vésperas das eleições. A parte mais consciente do eleitorado, que esperava que Aécio Neves pudesse ser o nome para tirar o PT da Presidência, parece que se frustrou. O acidente que vitimou Eduardo Campos matou a candidatura de Aécio Neves, fazendo surgir a estrela ascendente de Marina Silva. O que esperar dela governando?

Antes, é preciso registrar aqui que Marina Silva é uma história particular de sucesso, que tem em si o sorriso da Roda da Fortuna. Maquiavel, homem renascentista, falou dela no famoso O Príncipe. O avião poderia tê-la matado também, mas os deuses foram com ela generosos. A Fortuna foi duplamente favorável: deu-lhe a vida e a oportunidade de ganhar, de forma sensacional, a Presidência da República.

Não se pode subestimar alguém assim bafejado pela sorte. Todos achavam que ela estava fora do palco e eis que ela retornou para vencer, provavelmente. Marina tem a favor de si o recall da última eleição, tem uma boa imagem junto à opinião pública e tem mantido sua “pureza” ideológica intacta. Como o eleitorado brasileiro está amestrado para as causas esquerdistas, Marina Silva passou a representar a possibilidade de avanço em relação ao PT. Atropelou Aécio Neves.

Nisso consiste a principal contradição de Marina Silva, se eleita: a impossibilidade de governar bem. Não se pode governar o país sem a acomodação com o Centrão, os interesses estabelecidos e a própria realidade ela mesma. Todavia, como ela é “sonhática”, ou seja, “pura”, terá grandes dificuldades para se compor com o Congresso Nacional, do qual dependerá para todas as decisões relevantes. O Congresso Nacional reúne as chamadas “forças vivas da Nação”.

Uma única medida anunciada por ela, a de carimbar 10% da verba orçamentária para a saúde, mostra o tamanho do despreparo da candidata. O Estado não tem que gerenciar apenas a saúde, mas também suas funções outras, inclusive a educação, que também tem sua gorda verba carimbada, e diplomacia, defesa, justiça, etc. Promessas deste tipo não são exequíveis, embora fáceis de falar no palanque, sob aplausos dos eleitores desavisados. Essas promessas pressupõem que as demais funções deverão encolher pela transferência de recursos orçamentários.

Os carimbadores de verbas orçamentárias pensam assim transferir para as outras funções do Estado a dureza da lei da escassez, mas é um equívoco: a realidade sempre se imporá, dando a proporção correta na alocação dos recursos. Um governante sensato jamais poderia se comprometer com tamanha parvoíce, mas em se falando de “sonháticos” tudo se pode esperar.

A eventual consagração de Marina Silva como presidente da República significará o passo final para o caos, pois a possibilidade de governança ou governabilidade tende a desaparecer. Um presidente da República precisa governar para todos os brasileiros e não apenas para sua corriola política. Tem que ter grandeza, ao menos um verniz de estadista, mínimo que seja.

A mensagem que Marina Silva passa é essa, a de que de “governável, mas ingerenciável” o Brasil finalmente será “ingovernável e ingerenciável”. Há o perigo de se contemplar perigosamente o fundo do abismo trazido pelo caos. Em um cenário assim, tudo pode acontecer, além da elevação inflação e da queda do PIB.

  

Contradições

Por Merval Pereira - O Globo

O caso do jato Cessna que vem dando dor de cabeça à direção do PSB por ser, ao que tudo indica, produto de uma obscura transação que envolve laranjas e dinheiro não contabilizado, trouxe para a herdeira política Marina Silva uma questão adicional, que reforça as supostas contradições de sua candidatura.

Uma das empresas envolvidas na compra do jato é a Bandeirantes Companhia de Pneus Ltda, que importa pneus usados, negócio considerado como dos mais danosos ao meio-ambiente. A autorização de importação de pneus usados, por sinal, foi uma das muitas brigas que Marina travou à frente do ministério do Meio-Ambiente, e perdeu.

Em 2003, foi convencida pelo então ministro da Casa Civil, José Dirceu, a recuar em sua posição contrária à importação de pneus em nome de um “bem maior”, no caso a unidade do Mercosul. Isso por que, apesar de oficialmente proibir a importação de pneus remodelados, o Brasil acata desde 2002 uma decisão do Tribunal Arbitral do Mercosul que obriga o país a aceitar a entrada de pneus vindos do Uruguai.

Essa posição provocou decisões judiciais que trouxeram para o país pneus usados dos Estados Unidos e da União Européia. Marina sempre reclamou que a questão dos pneus era tratada como puramente comercial, sem que fosse levado em conta seu lado ambiental. Seu objetivo, dizia, era fazer com que o Brasil deixasse de ser uma "lata de lixo global" para os pneus usados em outros países.

Sabe-se agora que a então denominada Bandeirantes Renovação de Pneus foi beneficiada por um decreto assinado em 2011 pelo governador Eduardo Campos, que ampliou seus benefícios fiscais, eliminando limites de importação fixados anteriormente por decreto do ex-governador e hoje deputado federal Mendonça Filho. Um dos sócios da hoje denominada Bandeirantes Companhia de Pneus Ltda, Apolo Santana Vieira, responde a processos de sonegação fiscal estimados em cerca de R$ 100 milhões devidos pela importação de pneus pelo porto de Suape, em Pernambuco.

Unindo-se a natureza do empreendimento ao fato de que o uso do avião não fora ainda declarado como doação de campanha eleitoral, com forte cheiro de caixa 2, têm-se que a candidata Marina Silva está em uma situação no mínimo delicada. A "nova política" que ela e Eduardo Campos pregavam era transportada para cima e para baixo por um jatinho todo irregular, financiado em última instância por uma atividade comercial que a ambientalista Marina Silva repudia. E que recebeu estímulos fiscais de seu companheiro de luta política anos antes de os dois se juntarem para tentar chegar ao Palácio do Planalto.

A essa contradição da dupla anterior soma-se a atual, de ter como companheiro de chapa o deputado Beto Albuquerque, que foi um dos líderes da aprovação do uso de transgênicos no Congresso, derrotando a posição da então senadora Marina Silva. Como a própria Marina explica agora, trabalhar com quem discorda de seus pontos de vista mostra apenas que ela não é uma radical como a acusam, e que sabe conviver com contrários.

No caso de Beto Albuquerque é uma verdade, pois trata-se de um político correto que, ao que se sabe, estava em defesa dos agricultores do Rio Grande do Sul no caso dos transgênicos, e não em alguma transação nebulosa. Mas no caso da empresa de pneus usados, não há desculpa para receber doações de campanha fora da legislação e de um empreendimento que considera nocivo ao meio-ambiente.

Nem mesmo dizer que não fora informada de nada. Ao se juntar à campanha de Eduardo Campos, tinha a obrigação de se informar desses detalhes, justamente para não se ver em uma situação delicada como agora. Outra aparente contradição, mas que desta vez trabalha a seu favor, é a nota do Sindicato dos Trabalhadores e Trabalhadoras Rurais de Xapuri (Acre), fundado por Chico Mendes, ligado à Central Única dos Trabalhadores (CUT), que não gostou de ver Marina colocá-lo como membro da "elite" brasileira, nem quer vê-lo classificado como um "ambientalista", mas sim como "sindicalista".

O sindicato também condena a política ambiental "idealizada pela candidata Marina Silva enquanto Ministra do Meio Ambiente, refém de um modelo santuarista e de grandes Ong's internacionais". Ora, os próprios termos do debate mostram que a ex-seringueira Marina Silva saiu do Acre para ganhar uma dimensão modernizadora, com uma visão mais ampla da disputa política e da própria defesa do meio-ambiente.