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sábado, 9 de agosto de 2014

"180" Movie - Você pode mudar de idéia em segundos...



180 é um Documentário premiado contra a prática do aborto.

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A contadora de Alberto Yousseff conta tudo à revista VEJA. Prefeituras do PT eram a grande fonte do doleiro


A revista VEJA desta semana traz uma reportagem com Meire Bonfim Poza. Eis a capa.

capa da veja

Quem é ela? Meire era a contadora do doleiro Alberto Yousseff. Meire viu, ouviu e participou de algumas das maiores operações do grupo acusado de lavar R$ 10 bilhões de dinheiro desviado de obras públicas e destinado a enriquecer políticos corruptos e a corromper outros com pagamento de subornos. Qual era a fonte privilegiada da mamata? Prefeitura do PT.

Meire Poza viu malas de dinheiro saindo da sede de grandes empreiteiras, sendo embarcadas em aviões e entregues nas mãos de políticos. Durante dois anos, Meire manuseou notas fiscais frias, assinou contratos de serviços inexistentes, montou empresas de fachada, organizou planilhas de pagamento. Ela deu ares de legalidade a um dos esquemas de corrupção mais grandiosos desde o mensalão.

Meire sabe quem pagou, quem recebeu, quem é corrupto, quem é corruptor. Conheceu de perto as engrenagens que faziam girar a máquina que eterniza a mais perversa das más práticas da política brasileira. Meire Poza era a contadora do doleiro Alberto Youssef — e ela decidiu revelar tudo que viu, ouviu e fez nos dois anos em que trabalhou para o doleiro.

“O Beto era um banco de dinheiro ruim. As empreiteiras acertavam com os políticos, e o Beto entrava para fazer o trabalho sujo. Ele passava o tempo todo levando e trazendo dinheiro, sacando e depositando. Tinha a rede de empresas de fachada para conseguir notas e contratos forjados”, diz. Um dos botes mais ousados de Youssef, segundo ela, tinha como alvo prefeituras comandadas pelo PT.

O doleiro pagava propina de 10% para cada prefeito que topasse apostar em um fundo de investimento criado por ele. “E era sempre nas prefeituras do PT. Ele falava: ‘Onde tiver PT, a gente consegue colocar o fundo’”. André Vargas era um parceiro fiel. O deputado estava empenhado em fazer com que dois fundos de pensão de estatais, o Postalis (dos Correios) e a Funcef (da Caixa Econômica Federal), injetassem R$ 50 milhões em um dos projetos do doleiro.

Leiam a reportagem. É de estarrecer. As empreiteiras que fizeram contratos com a Petrobras não se saem bem na história. É um esquema de corrupção que rivaliza com o do mensalão e que, muito provavelmente, o supera no valor movimentado. Vejam qual é o “modus operandi” deles.

REVOLUÇÃO LENTA, GRADUAL E SEGURA

Mudanças sociais importantes se fazem por reforma ou por revolução? Tem-se aí pano para muita manga e a sobra ainda dá um colete razoável. No final do século 19 estabeleceu-se um debate acerca dos caminhos para alcançar a nova ordem social, política e econômica almejada pelos comunistas. Alguns autores passaram a defender que os avanços nessa direção se fizessem através da luta sindical e das cooperativas. Eram os reformistas. Rosa de Luxemburgo postou-se contra eles. Em 1900 publicou "Reforma ou Revolução?", condenando o reformismo e afirmando, entre outras coisas, que os sindicatos ocupam-se com lutar por melhores salários, sendo, portanto, órgãos de defesa do proletariado, mas não de ataque ao capitalismo. Enfim, segundo Rosa, reformar serviria à conveniência do capital e só a revolução seria libertadora.

Essa tese se impôs com tamanha força entre marxistas de diferentes matizes que, passado um século, raros são os adversários das economias livres, de mercado, de empresa, que se assumem como reformistas. A opção revolucionária esteve no foco, por exemplo, de nossos conhecidos Fóruns Sociais Mundiais e de quantos a ele acorriam de toda parte. Em tais eventos renovavam-se, sobre muros e cartazes, os conhecidos dizeres - "Um outro mundo é possível". Duvido que qualquer participante de tão prestigiadas congregações se assumisse reformista. O FSM, em si, era revolucionário. Discutia-se o modo de fazer a revolução. Jamais, substituí-la por reformas. O objetivo, sempre o mesmo: construir o possível "outro mundo".

Ora, edificar onde já existe algo cuja estrutura se considere inaceitável implica demolição. Em palavras da Sociologia: revolução. O processo de desconstrução, demolição ou implosão da ordem social envolve a derrubada de seus pilares. Entre eles, a instituição familiar, a disciplina, o respeito à lei, a religiosidade, e o direito de propriedade. A eliminação deste último pode ser alcançada acabando com ele ao modo cubano de 1959, que tanto encanta nossos governantes de hoje, ou enfraquecendo esse direito, adelgaçando e debilitando esse pilar, até seu ponto de ruptura. Eis o que sempre esteve e está por trás das ações do MST, da Via Campesina, desse novo braço da luta revolucionária denominado MTST e dos muitos aparelhos assemelhados que, no Brasil, encontraram abrigo junto à CNBB, onde muitos confundem cristianismo com revolução social (se assim fosse, Jesus Cristo jamais teria subido à Cruz; teria feito uma revolução e seria merecedor de simples notas de rodapé nos livros sobre a história dos povos à leste do Mediterrâneo).

Está posto aí o motivo pelo qual, em recente invasão de propriedade urbana por militantes do MTST, apesar da ordem judicial de desocupação dada pelo magistrado do feito, a providência não foi autorizada pelo governador Tarso Genro que a retarda quanto pode. O governador chegou a dizer que iria obter uma sustação da ação por noventa dias, ao que o juiz do caso, pacientemente, ensinou: o Estado nada tem a dizer numa ação da qual não é parte. É a mesma intenção revolucionária que explica a ilimitada tolerância dos poderes de Estado com as tropelias do MST e esse jogo de palavras fuleiro, que chama invasão de ocupação. E é também por ela que convivemos com tão excessiva tributação, espécie de desapropriação sem nome nem direito de defesa.

Que ao menos não possam presumir ignorância nossa sobre para onde, aos poucos, nos conduzem.

MILITARES EVITAM PARCEIROS PRIORITÁRIOS DA DIPLOMACIA PETISTA


No primeiro plano o sistema de Defesa Aérea Pechora e ao fundo 
um SU-30MK2 levanta voo na comemoração dos 92 anos da
 Fuerza Aerea Venezoelana -FAV-, em 2012. Foto AVN
Forças Armadas brasileiras e Base Industrial de Defesa ignoram desenvolvimentos pioneiros da Índia e da China, restringem cooperação com a Rússia e se afastam da Venezuela

Alguém pode perguntar por que os parceiros estrangeiros preferenciais da Assessoria Internacional da Presidência da República e da parcela do Itamaraty acumpliciada ao bolivarianismo sul-americano, não conseguem se afirmar como sócios confiáveis das Forças Armadas e dos industriais brasileiros do setor de Defesa.

Nessa área há certa cooperação com a Rússia (bem menos do que Moscou gostaria) e uma notável indiferença em relação aos programas militares de China e Índia. A colaboração mais promissora é com a África do Sul – concentrada, hoje, no setor de desenvolvimento de mísseis.

A opção do governo chavista pela aquisição de tecnologias militares russa, chinesa e iraniana, produziu um afastamento natural entre os aparatos de Defesa do Brasil e da Venezuela.

Entre os bolivarianos, Argentina e Equador se afiguram como clientes potenciais da Base Industrial de Defesa, mas a capacidade de investimento deles é tão limitada – e sujeita a tantas intercorrências (como a que acontece nesse momento, produto da crise financeira platina) –, que o futuro dos relacionamentos com Buenos Aires e Quito não empolga.

A liderança ideológica exercida pelo historiador Marco Aurélio Garcia, assessor internacional da presidenta Dilma, e pelo ex-embaixador em Caracas Antônio Ferreira Simões – atual chefe dos assuntos relativos às Américas do Sul, Central e Caribe dentro do Ministério das Relações Exteriores – gostaria imensamente que as alardeadas parcerias de Brasília com o BRICS (grupo dos países de economia emergente formado por Brasil, Rússia, Índia, China e África do Sul) e com o Bolivarianismo pudessem reproduzir ambientes de cooperação como os que unem os militares brasileiros à França, Suécia e Estados Unidos. Mas, apesar do empenho pessoal do Ministro da Defesa, Celso Amorim, tal expectativa não encontra amparo na realidade.

Na verdade, o que se verifica é quase um cabo-de-guerra. Os diplomatas e assessores do Executivo petista puxam para um lado; os militares e industriais da área de Defesa puxam para outro.

É isso que explica o desinteresse da Força Aérea Brasileira (FAB) pelo caça multifunção Tejas – que se encontra em fase final de homologação pela aviação militar indiana –, ou a indiferença da Embraer e suas associadas pelo supersônico de combate sino-paquistanês JF-17 e os projetos dele derivados – ou ainda a prudente distância que a Marinha do Brasil guarda da indústria naval russa.

Oficiais da FAB foram convidados a conhecer o programa Tejas, e não ficaram bem impressionados. O aparelho foi oficialmente incorporado ao componente de combate da Força Aérea da Índia em 2013, mas ainda não é completamente operacional. Diferentes testes e avaliações indicaram a conveniência de os militares indianos aguardarem uma versão mais aperfeiçoada da aeronave, que incluirá modificações na capacidade de manobra (em alta performance) do aparelho.

A indústria bélica indiana, que se caracterizou, nas últimas décadas, por implantar programas a partir de projetos russos, tem a fama de apresentar resultados queimando etapas, em busca de uma redução no tempo de desenvolvimento dos seus produtos. Essa metodologia causou sérios problemas durante a construção do “Arihant”, primeiro submarino nuclear do país, e também na fase de acabamento do “Vikramadytia”, um porta-aviões obtido por 942 milhões de dólares junto à esquadra da Rússia. O navio ainda está em fase de aceitação, mas seu custo já cruzou o marco dos 2,5 bilhões de dólares.

Atualmente os indianos tentam vender à Marinha do Brasil o míssil mar-mar BrahMos, que possui uma versão terra-mar, de defesa costeira. O projeto não empolga os chefes navais brasileiros (concentrados em modelos similares fabricados pelo Ocidente), mas é o sonho de alguns almirantes venezuelanos, que gostariam de ver o míssil instalado em seus navios de patrulha oceânica recebidos, na década de 2000, do estaleiro espanhol Navantia.

Em Brasília, militares em postos importantes do Ministério da Defesa não escondem sua predileção pelas tecnologias européia e americana, ainda que elas sejam mais difíceis de se obter, e muito mais caras de se adquirir. O que faz a diferença é o resultado operacional. E o exemplo disso está bem perto de nós.

Após três anos de decepções, o Comando Conjunto das Forças Armadas do Equador finalmente decidiu comprar no Ocidente radares de defesa aptos a substituir os modelos CETC-YLC/2V-3D e YLC-18, comprados por 60 milhões de dólares na China, que nunca funcionaram perfeitamente.

A própria aquisição dos helicópteros russos Mi-35, de ataque, pela FAB, gerou, de parte dos compradores brasileiros, muitas reclamações referentes a atrasos na entrega das aeronaves e a um comportamento dos vendedores que, no Brasil, é educadamente resumido como um “pós-venda sofrível”.

A postura das autoridades do Exército e da Força Aérea tem sido a de optar pelo produto russo somente quando não há esperança de o Ocidente fornecer produto similar a preços competitivos – caso da importação já feita dos mísseis antiaéreos Igla, e da negociação em curso para a encomenda de baterias antiaéreas Pantsir S1.

De resto, é preciso ter em mente que, nos últimos cinco anos, o investimento feito pelo segundo governo Lula e pela administração Dilma no reequipamento das Forças Armadas, distanciaram o aparato de Defesa brasileiro dos seus congêneres argentino e venezuelano. Ainda que, nos últimos 12 anos, Caracas tenha incinerado cerca de 14 bilhões de dólares na substituição de equipamentos de origem americana por produtos russos e chineses, além de investir em áreas de pesquisa (para combustível de mísseis e explosivos de alta potência) que contam com o respaldo iraniano. Hoje as Forças Armadas da Venezuela possuem um dos maiores arsenais das Américas, mas, em Brasília, isso não é interpretado, de forma automática, como elevação do nível de preparo militar.

Os caças supersônicos Sukhoi SU-30MK2 comprados pelos venezuelanos à Rússia na década de 2000, ainda requerem manutenção de uma missão técnica russa em território venezuelano, e a entrada em funcionamento dos chamados centros integrados de defesa regional apresentam problemas.

Foi isso que se observou, por exemplo, na terça-feira, 18 de março deste ano, quando um monomotor Cessna 210 suspeito de estar a serviço do narcotráfico invadiu o espaço aéreo venezuelano (procedente de Honduras), foi perseguido por dois caças F-16 e mesmo assim conseguiu escapar.

De nada valeram os esforços do contra-almirante Edglis Herrera Balza, comandante da Zona Operativa de Defensa Integral de Falcón (ZODI-Falcón), no norte do país, que acionou um helicóptero Super Puma e embarcações da Guarda Costeira local.


Durante quatro horas a torre de controle do Aeroporto Internacional de Las Piedras Josefa Camejo e o centro de defesa aérea sediado em Caracas se esforçaram por rastrear o aviãozinho – um modelo com tecnologia da década de 1980 e grande sucesso, por sua simplicidade, entre proprietários rurais. Voando a muito baixa altitude, o Cessna misturou sua silhueta ao relevo e às copas das árvores, conseguindo evadir-se.

Dilma, os evangélicos, os políticos, Deus e o capeta


Pode haver outros, mas creio que poucos jornalistas combatem com tanta firmeza o preconceito que há no Brasil, nas camadas ditas mais cultas — no geral, são apenas pessoas orgulhosas do pouco que sabem e do muito que não sabem — contra os evangélicos. Na verdade, existe um preconceito muito forte contra os cristãos. Os católicos também são alvos constantes de desconfiança. Mas não vou tratar disso agora. O que me incomoda profundamente em período eleitoral é a busca desesperada dos políticos pelos votos dos crentes.  Muitos chegam a afirmar até uma convicção que não têm só para conquistar o eleitor.

Nesta sexta, por exemplo, a presidente Dilma esteve na Assembleia de Deus do Brás, em São Paulo – um braço da Congregação de Madureira. Foi convidada a discursar no Congresso Nacional de Mulheres da Assembleia de Deus Madureira, que reuniu fiéis de todo o país. Lembrou que o Brasil é um país laico, mas citou o Salmo 33, de Davi: “Feliz é a nação cujo Deus é o Senhor”. Então tá bom. Eu preciso lembrar aqui algumas coisas.

Quando ministra do governo Lula, Dilma concedeu mais de uma entrevista dizendo-se favorável à legalização do aborto. Está tudo documentado. Eu lido com fatos, não com impressões. Notem, leitores: um candidato tem o direito de pensar o que quiser. Não pode, ou não deve, é fingir o que não pensa. A então ministra chegou a comparar a eliminação de um feto com a extração de um dente. Houve uma forte reação dos cristãos — e percebam que, aqui, eu não estou me posicionando sobre o aborto, mas sobre a hipocrisia política. E se inventou uma Dilma que seria contrária ao aborto.

A então candidata foi a um programa de TV e se disse católica — chegando a chamar Nossa Senhora de “deusa”. O cristianismo é monoteísta, vale dizer: crê num único Deus. Nossa Senhora, como se sabe, é uma santa. Chegou a ir a Aparecida e foi filmada persignando-se — de maneira errada, diga-se. Eleita presidente, nomeou para o Ministério da Mulheres Eleonora Menicucci, uma defensora fanática do aborto, que já havia confessado tê-lo feito, em outras mulheres, com as próprias mãos. Fatos. Eu só lido com fatos.

Os cristãos, com mais ênfase os evangélicos, fazem um intenso trabalho de convencimento contra a descriminação das drogas, por exemplo. O governo desta Dilma que vai a um templo evangélico citar um Salmo de Davi pôs em prática uma política pública escancaradamente favorável à descriminação, ainda que o faça de maneira um tanto oblíqua. Em maio de 2013, vários entes federais promoveram um seminário em Brasília, patrocinado com dinheiro público, em favor da descriminação e da legalização das drogas. Não se convidou para o evento um único representante que se opusesse a essas teses. Fatos. O governo Dilma, por intermédio do Ministério da Saúde — especialmente na atual gestão, de Arthur Chioro, combate com unhas e dentes as chamadas comunidades terapêuticas, que atuam com dependentes químicos — algumas são ligadas a igrejas evangélicas. Fatos.

No dia 27 de janeiro de 2012, no Fórum Social de Porto Alegre, Gilberto Carvalho, secretário-geral da Presidência, afirmou que os petistas deveriam se preparar para travar com os evangélicos uma luta ideológica para disputar a chamada “classe C”. Entenderam? Para ele, seu partido e os cristãos dessas denominações têm interesses contraditórios.

Também não demonizo posições. Cada um pense o que quiser e dispute o coração do eleitor. O que estou cobrando é honestidade intelectual. Dilma tem o direito de defender a descriminação do aborto ou sua política simpática à descriminação das drogas. O que me desagrada, e isto vale para qualquer partido, é essa mania de alguns políticos de achar que Deus tem prazo de validade: geralmente, vai de julho a outubro dos anos pares, que são os eleitorais. Depois, quem costuma dar as cartas na política é mesmo o capeta do vale-tudo.

As bananas do Foro de São Paulo, segundo Jair Bolsonaro: “Isso é uma palhaçada, mas é muito sério”


Eu já falei do Foro de São Paulo e do decreto 8.243, ambos detonados abaixo pelo deputado Jair Bolsonaro. Mas nada tenho a dizer sobre o resto do seu discurso. É que, depois de tanto tratar de Gaza, Israel, Hamas, Estados Unidos e agora Iraque, eu queria apenas voltar a falar um pouco do Bananão, e não encontrei tema mais emblemático. Depois do “Mais médicos”, será que chegou a vez do “Mais bananas”? Para o PT, de fato, ”somos todos macacos”. Divirtam-se.

JAIR BOLSONARO (PP-RJ): …Sr. Presidente, eu sou deputado federal do sexto mandato lá do Rio de Janeiro, mas eu fui criado no Vale do Ribeira, mais especificamente [no] Eldorado Paulista. Eu quero voltar pela segunda vez aqui, porque eu estive agora no Vale do Ribeira, em vários municípios; estive lá na Abavar – Associação dos Bananicultores do Vale do Ribeira, e o problema lá beira o terrorismo. Por quê? Acredite se quiser: “Instrução normativa número 3 de 2014″, publicada no D.O. [Diário Oficial] de 21 de março, por coincidência o dia do meu aniversário. Essa instrução é do Ministério da Agricultura.

Permite a importação de bananas do Equador diretamente para o Ceagesp – [Companhia de Entrepostos e Armazéns Gerais de] São Paulo. Pelo que eu aprendi nos bancos escolares, Equador sequer faz divisa com o Brasil. A distância em linha reta são 4.300 quilômetros. Por estrada, 6.2oo [na verdade, 6.221] quilômetros. Arredondando os números, um caminhão gastaria para ir e voltar 6.000 litros de óleo diesel. Pagaria pedágio, salário do motorista, manutenção do caminhão, seguro… Eu não entendo como essa banana pode chegar de forma competitiva lá.

Eu não posso falar um palavrão aqui sobre quem teve a ideia de baixar essa instrução normativa. Com toda certeza, foi da companheira Dilma Rousseff, porque o Equador faz parte do Foro de São Paulo.

Além da importação da banana, vamos importar pragas, como o moko da banana e a sigatoka negra. Prejudicam-se no Vale do Ribeira, e mais especialmente Santa Catarina e Bahia, aproximadamente 2 milhões de trabalhadores. Eu sei que no PT não tem trabalhadores. É no nome apenas. É um nome de fantasia. Mas prejudica 2 milhões de trabalhadores.

Outra coisa também que é uma piada. Acabei de conversar agora há pouco com o Tiririca. A questão, já que o Tiririca é de São Paulo, seria pra ele. O certificado fitossanitário, pelo [que está] publicado em D.O., será emitido pelo… Equador! Ou seja: se eu vou vender uma coisa aqui agora pra qualquer um de vocês, pro [deputado federal] Chiquinho Escórcio [PMDB-MA], eu vou falar que essa coisa minha tá ruim? “Tá boa, Chiquinho, pode comprar!”

Isso é uma palhaçada, mas é muito sério.

Só o Vale do Ribeira: cidades como Miracatu, Jacupiranga, Eldorado Paulista, Sete Barras, Juquiá, Iporanga – estariam arruinados seus comércios. Eu entendo que até isto está acontecendo, eu posso supor, porque como ali faz parte da Mata Atlântica, cada vez mais a sanha ecológica se faz presente no local; como agora [que] ampliaram a estação ecológica da Jureia, que não só… Posso concluir, sr. presidente? Um minuto?… prejudica a questão do turismo ali em especial Cananeia, Iguape, Ilha Comprida, mas prejudica os bananicultores, que cada vez mais são impedidos de praticar a cultura da banana.

Assim sendo, sr. presidente, eu espero que depois das eleições… concluindo, sr. presidente… essa casa aqui vote um projeto de decreto legislativo, que não seja tão difícil, como esse, para sustar os efeitos decreto 8.243, o decreto bolivariano que cria os conselhos “sovietes” ou “populares” no nosso país, que anulam o trabalho do Congresso Nacional, e nós podemos então, nós que não [nos] intitulamos, não usamos o nome “trabalhadores”, podemos efetivamente ajudar os trabalhadores do Brasil e em especial os banicultores de Santa Catarina, Bahia e Vale do Ribeira. Muito obrigado, sr. Presidente.


JAIR BOLSONARO (PP-RJ): Sr. Presidente, prezado Deputado Inocêncio Oliveira, eu confesso que eu queria falar sobre outro assunto aqui, mas depois de ouvir o Deputado do PT do Paraná, Dr. Rosinha, praticamente implorar que o Ministério da Agricultura conceda cotas de importação de banana do Equador, confesso que fui obrigado a vir rebatê-lo aqui.

Porque eu sou brasileiro, eu sou patriota. Agora, quando o Dr. Rosinha pede cotas de importação de bananas do Equador equivalente ao que é comercializado por semana em São Paulo, ele comete, no meu entender, uma série de crimes contra os trabalhadores e bananicultores do Brasil.

Em linha reta, da capital do Equador à capital do Estado de São Paulo são 4.300 quilômetros. Por estrada, são 6.221 quilômetros. E ali do lado, em direção a Curitiba, pegando a BR-116, temos o Vale do Ribeira, uma região em que, com exceção de Cajati, basicamente a economia vem da banana. É a primeira região drasticamente afetada, caso o Brasil abra esse precedente de importação de banana do Equador.

Eu perguntaria: como é que ficam ali os bananicultores, a economia de Eldorado, Iporanga, Registro, Sete Barras, Miracatu, Juquiá, entre outras cidades? Estariam arruinando a economia dessa região, que já é uma economia bastante deficiente.

Mais ainda: ao importar banana do Equador, o Governo brasileiro vai estar importando também pragas da banana, como, por exemplo, a sigatoka negra e o moko da bananeira. Tanto é verdade que as pragas estão sendo importadas que, desde o plantio da banana até a sua colheita, aqui no Brasil, fazem-se oito aplicações de fungicidas; enquanto no Equador são de 30 a 40 aplicações.

Eu repito: é mais um crime que o Governo do PT está fazendo contra o trabalhador brasileiro. Por quê? Vejamos as consequências imediatas da importação da banana do Equador: afeta diretamente os bananicultores no equivalente a 2 milhões de empregos; em relação à economia, sabemos que a banana é uma cultura que não é muito rendosa; quanto às questões fitossanitárias, como eu disse, estaremos importando pragas.

Agora, será que Dilma Rousseff, agora com o apoio do Deputado Dr. Rosinha, que é integrante do Parlamento do Mercosul, que em 2008 foi Presidente do Parlamento do Mercosul, quer importar banana do Equador porque esse país faz parte do Foro de São Paulo?

Mais grave ainda, Sr. Presidente, para concluir: há muito, o morador do Vale do Ribeira clama por uma barragem a montante do Rio Ribeira de Iguape, levando-se em conta a de Eldorado, para exatamente conter as enchentes que, de época em época, arrasam a plantação de banana na várzea do Rio Ribeira.

E há 2 anos, agora, o que é que com o dedão da FUNAI foi feito ali na região de Eldorado, especificamente na Barra do Taquari? Centenas de índios foram transportados para lá, ou seja, daqui a pouco vão pedir a demarcação de uma extensa área indígena naquela região, o que inviabilizará qualquer sonho de construir uma barragem naquela região.

Dilma Rousseff, eu não lhe faço um apelo, porque eu conheço o seu passado. Peço a Deus que a tire da Presidência e coloque um patriota, um brasileiro, no ano que vem, caso contrário o Brasil brevemente não será “venezualizado”, será, sim, “cubanizado” com suas propostas de apoio a ditadores e ditaduras da América Latina.


Obrigado, Sr. Presidente.

O vídeo ensina que, num debate eleitoral, é preciso bater com palavras até em mulheres



Se os marqueteiros soubessem exatamente o que fazer para ganhar uma disputa nas urnas, o Brasil teria inventado a eleição sem perdedores. Se s conhecessem a receita que garante a vitória, não seriam marqueteiros; seriam candidatos imbatíveis. É de bom tamanho, convém ressalvar, o acervo que reúne ótimas sacadas dos integrantes da tribo. É tão volumoso quanto o que congestiona a ala que expõe ideias de jerico.

Entre tantas, a mais imbecil é provavelmente a que rebaixa a alunos de curso de boas maneiras os participantes de debates eleitorais transmitidos pela TV. Por determinação dos marqueteiros, todo candidato deve fugir como o diabo da cruz de qualquer coisa que possa parecer “muito contundente” ou “deselegante demais” aos olhos dos espectadores.

Uma pergunta que cause desconforto ao concorrente, uma resposta que mire o fígado do adversário, mesmo uma testa crispada pela irritação ─ tudo isso virou  ”sinal de agressividade”. É pecado mortal, sobretudo se houver mulheres no grupo de debatedores. Graças a essa estratégia, menos lógica que uma análise de Dilma sobre a engorda da inflação e a anemia do PIB, nas campanhas eleitorais como no futebol brasileiro os atacantes são hoje uma espécie em extinção.

Paradoxalmente, os remanescentes vivem desmentindo na prática a teoria forjada pelos apóstolos da pusilanimidade. A discurseira de Lula, por exemplo, é muito mais que agressiva: é uma bisonha aula magna de boçalidade. Se os marqueteiros tivessem razão, a usina de insolências que venceu duas disputas presidenciais não conseguiria sequer o voto dos parentes. Quem prefere a retirada quando todas as circunstâncias imploram pela ofensiva é gente que nunca ouviu falar em Carlos Lacerda, Jânio Quadros, Leonel Brizola e outros especialistas em duelos retóricos.

No vídeo de 2010, sem ultrapassar em nenhum instante a fronteira da civilidade, Plínio de Arruda Sampaio demitiu sem aviso prévio o besteirol covarde, revogou a caricatura eleitoral da Lei Maria da Penha e ensinou como se bate com palavras também em mulheres. As máscaras faciais de Dilma Rousseff vão revelando o pote até aqui de raiva, a temperatura interna a caminho do ponto de combustão.

Os candidatos da oposição precisam rever os 35 segundos em que Plínio associa Dilma Rousseff à corrupção em geral e a Erenice Guerra em particular.  Aécio Neves e Eduardo Campos vão constatar que a grosseria é apenas a a prima paupérrima da combatividade, da firmeza, da contundência, da ironia fina, do sarcasmo desmoralizante. A verdade só soa insultuosa aos ouvidos de gente com culpa no cartório. Não há bala de prata tão mortal quanto a evocação do fato criminoso.

Milhões de brasileiros indignados sonham com um candidato que conte o caso omo o caso foi, que chame coisas e seres pelo nome certo. Quem rouba é ladrão. Quem prospera com vigarices é vigarista. A presidente incapaz de dizer algo que preste é um embuste que foi longe demais. E quer continuar até 2018 no emprego que ganhou do padrinho Lula.


Pouco importa o sexo de quem não se importa com o Brasil. A doutra em nada é uma ameaça à nação, e como tal merece ser tratada.

Decapitações, crucificações, execuções sumárias: o horror imposto pelos jihadistas no Iraque e na Síria

Por Veja
Imagem divulgada pelo site jihadista Welayat Salahuddin mostra militantes do Estado Islâmico do Iraque e do Levante (ISIL) executando dezenas de iraquianos membros das forças de segurança em um local desconhecido
Imagem divulgada pelo site jihadista Welayat Salahuddin mostra militantes do Estado Islâmico do Iraque e do 
Levante (EIIL) executando dezenas de iraquianos membros das forças de segurança em um local desconhecido 
- AFP/Welayat Salahuddin/AFP -
Selvageria do EIIL afastou até mesmo a Al Qaeda. Grupo que está desintegrando o território iraquiano é alvo de ataques aéreos dos EUA

Nem mesmo crianças são poupadas da fúria selvagem dos jihadistas do Estado Islâmico do Iraque e do Levante (EIIL). O avanço do grupo terrorista obrigou os Estados Unidos a atacarem o território iraquiano pela primeira vez desde a retirada das tropas, em 2011. Execuções sumárias, decapitações, amputações e crucificações compõem um modus operandi de brutalidade incomensurável, que faz empalidecer até mesmo a violência da Al Qaeda. 

Ao ordenar a ação, o presidente Barack Obama mencionou a necessidade de ajudar a minoria yazidi, que foi encurralada pelos terroristas em regiões montanhosas de Sinjar, onde estão morrendo de fome e sede. Essa minoria segue uma religião pré-islâmica que o EIIL vê como ‘demoníaca’. “Crianças estão morrendo de sede, enquanto isso, o EIIL pede a destruição sistemática de toda a população yazidi, o que constituiria genocídio”, disse Obama.

Em Raqqa, na Síria, o grupo expôs as cabeças de várias vítimas em postes. Em uma das gravações da selvageria postadas no YouTube, um cristão é forçado a se ajoelhar, cercado de homens mascarados que o forçam a se ‘converter’ ao Islã. A vítima é decapitada. Em outro vídeo, um narrador afirma que os corpos expostos são de soldados sírios.

Depois de proclamarem a criação de um Estado islâmico em um vasto território entre a Síria e o Iraque, extorquindo os que quiserem ‘proteção’, os jihadistas divulgaram uma lista de regras para moradores da província de Nínive, no noroeste iraquiano. O jornal The Washington Post reproduziu algumas delas: “todo muçulmano será bem tratado, a menos que esteja aliado com opressores ou ajude criminosos”; “qualquer pessoa que roube ou saqueie enfrentará amputações”; “rivais políticos ou armados não serão tolerados”; “policiais e militares podem se arrepender, mas quem insistir em apostasia será morto”; “a lei da sharia será implementada”; “sepulturas e santuários serão destruídos”; “as mulheres são informadas de que a estabilidade está no lar e, por isso, não devem sair sem necessidade. Elas devem estar cobertas com vestes islâmicas completas”. E ainda, um ‘conselho’: “seja feliz por viver em uma terra islâmica”.

A força mais incivilizada em ação no Oriente Médio usa a violência chocante também como apelo para recrutar radicais islâmicos ao redor do mundo. No Instagram, um jihadista britânico escreve, abaixo de uma foto em que um homem aparece ao lado de várias cabeças decepadas e um esqueleto falso: “Nosso Irmão Abu B do Isis posa com seus dois troféus depois da operação de ontem. O esqueleto não é real”.

A maioria dos recrutados são jovens. E uma nova geração de jihadistas está sendo preparada. A revista Vice divulgou um vídeo em sua página na internet no qual uma criança belga diz ser do Estado Islâmico e afirma que não quer voltar para a Bélgica porque lá há “infiéis que matam muçulmanos”. Ele fala de maneira relutante, ao lado do pai, membro do EIIL. “O que você quer ser, um jihadista ou executar uma operação suicida?”, pergunta o pai. “Jihadista”, responde o menino.

Abaixo, vídeo da Vice com jihadistas do EIIL. ATENÇÃO: algumas cenas são fortes:


Por dentro do Jihad

Por Carlos I. S. Azambuja


Entre 1994 e 2000, Omar Nasiri trabalhou como agente secreto para os principais serviços externos de Inteligência da Europa - incluindo a DGSE (Direction Genérale de la Securité Exterieure), da França, e o MI5 e MI6, da Grã-bretanha. Do submundo das células islâmicas da Bélgica até os campos de treinamento do Afeganistão e as mesquitas radicais de Londres, ele arriscou a vida para derrotar a emergente rede global que o Ocidente viria a conhecer como Al-Qaeda.

Agora, pela primeira vez, em um livro editado pela Editora Record - "Por dentro do Jihad" - (1), Nasiri compartilha a história de sua vida - precariamente equilibrada entre o mundo dos jihadistasislâmicos e dos espiões que os perseguem. Como árabe e muçulmano, ele pôde infiltrar-se nos rigidamente controlados campos de treinamento afegãos, onde encontrou homens que mais tarde se tornariam os terroristas mais procurados da Terra: Ibn al-Sheikh al-Libi, Abu Zubayda e Abukhabab al-Masri. Enviado de volta à Europa, Nasiri tornou-se um intermediário de mensagens trocas entre o recrutador-chefe da Al-Qaeda no Paquistão e o clérigo radical de Londres, Abu Qatada.

Em suma, "Por dentro do Jihad" oferece uma perspectiva inteiramente original da batalha que se desenvolve contra a Al-Qaeda. Omar Nasiri, nome fictício, nasceu no Marrocos e atualmente vive na Alemanha.

Eis um trecho de "Por Dentro do Jihad":

"Em algumas noites (no Afeganistão) nós praticávamos tajwid (2) em outras estudávamos o Corão e a hadith, o conjunto de tradições estabelecidas pelas palavras e ações do profeta Maomé (...).

Nós aprendíamos muito todas as noites nessas aulas mas, acima de tudo, aprendíamos sobre as leis do jihad. Existem mais de 150 versos no Corão sobre o jihad e centenas de referências na hadith. (...) Foi somente quando cheguei a Khaldan (3) que comecei a aprender o que o Corão tinha realmente a dizer sobre o jihad.

Naturalmente, há muitos tipos diferentes de jihad. Existe o jihad interior, que é algo que todos os verdadeiros muçulmanos praticam constantemente. Existe o jihad da língua, que tem todos os tipos de forma. Pode significar o proselitismo, como eu vira no Tabligh (4). Ou pode significar manifestar-se politicamente, através de sermões ou protestos ou, até mesmo, de propaganda como o Al Ansar (5). Existe o jihad realizado por meio de ações, tais como fazer a peregrinação hajj (6) até Meca. Ou mesmo dando dinheiro para apoiar o jihad supremo, a kutila fi sabilillah. A guerra santa.

Nós falávamos quase que exclusivamente sobre esta última forma de jihad. Nós aprendemos todas as regras de combate. A força deve ser evitada, a menos que seja absolutamente necessária e, mesmo assim, deve ser empregada somente em proporção ao poderio do inimigo.

Mas, uma vez que a força torna-se necessária, ninguém pode fugir do seu dever. Se uma mulher do outro lado do mundo é estuprada ou tirada de sua família, todos os muçulmanos devem unir-se para lutar até que a injustiça seja corrigida. É uma exigência de Deus.

Antes de lutar, um irmão deve preparar-se. Primeiro, e acima de tudo, ele deve se preparar espiritualmente. Com fé, um exército pode derrotar um oponente dez vezes maior.

Outros tipos de preparação também são vitais. Um mujahid (7) deve estar moralmente preparado; ele deve evitar todos os pecados e purificar-se diante de Deus. Ele também deve preparar seu corpo e fortalecê-lo o máximo possível. E todo irmão deve aprender tudo o que conseguir sobre ciência e tecnologia, para que sua superioridade sobre o inimigo seja total.

Uma vez em combate, um mujahid deve obedecer leis muito rígidas. São proibidos o massacre de inocentes, a matança indiscriminada, a morte de mulheres e crianças, a mutilação dos cadáveres dos inimigos e a destruição de escolas, igrejas, fontes de água ou, até mesmo, campos e rebanhos. Ninguém deve ser assassinado enquanto está rezando, independentemente de as orações serem muçulmanas, cristãs, judaicas ou quaisquer outras.

Um mujahid deve lutar somente por Deus, não por ganhos materiais, não por política. Ele luta com a razão a seu lado e luta para servir à criação de Deus. Quanto mais profunda for sua fé em Deus, maior será sua capacidade de honrar a obra de Deus.

Os verdadeiros fiéis são aqueles cujas vidas Deus obteve em troca da promessa do paraíso. Eles não devem fugir da batalha, ainda que estejam diante da morte certa. Um homem que dá as costas aos infiéis e corre, diz o Corão, sujeitou-se, de fato, à severa punição de Deus e seu refúgio final é o fogo; quão abomináveis são o retorno e a destinação que o aguardam?

Fiquei surpreso ao aprender como são tão específicas as leis do jihad, muito mais do que quaisquer convenções sobre direitos humanos sonhadas no Ocidente. Na verdade, nossos professores repetiam para nós incontáveis vezes que esses princípios são os que diferenciam muçulmanos de não-muçulmanos. Os infiéis são aqueles que matam indiscriminadamente, sem lei. Eles destroem cidades inteiras, até mesmo populações inteiras. Eles bombardeiam igrejas, mesquitas e escolas.

Nós aprendemos sobre os ingleses e os franceses, que conquistaram povos em todo o mundo e roubaram as terras para suas colônias. Nós aprendemos sobre Hitler e seus campos de concentração. Aprendemos como os americanos tinham massacrado coreanos e vietnamitas. Aprendemos sobre Hiroshima, Nagasaki e os bombardeios em massa no final da Segunda Guerra Mundial. E, é claro, aprendemos sobre os horrores que os israelenses perpetraram na Palestina, mas isso todos nós já sabíamos. Os infiéis massacravam, bombardeavam e destruíam tudo em seu caminho. Eles eram uns animais.

Naturalmente, aprender tudo isso me faz pensar de novo a respeito do que eu sabia sobre a guerra na Argélia. O GIA fizera muitas das coisas proibidas na lei islâmica. Eles haviam matado civis, disparando até mesmo contra escolas inteiras. Mas, com o tempo, aprendi algo sobre as leis do jihad: há espaço. Há espaço dentro dos limites da lei para todos os tipos de interpretação.

Há espaço, particularmente na hora de definir quem são os inimigos e quem são os inocentes. Parece simples, é claro - os inimigos são aqueles com as armas. Entretanto, de acordo com as leis do jihad, a definição de "inimigo" pode ser expandida para incluir toda a cadeia de suprimentos: quem quer que apóie o inimigo com dinheiro ou armas, ou mesmo com comida ou água; até mesmo aqueles que dão apoio moral - jornalistas, por exemplo, que escrevem em defesa da causa do inimigo. Ms até onde, me perguntei, a cadeia de suprimentos vai? Até aquele que vota em um regime inimigo? E quanto àqueles que não escolhem um lado? Até onde vai?

Mulheres geralmente são consideradas inocentes; mas elas também podem ser o inimigo. Se uma mulher reza a Deus para proteger o marido, então ela não é um inimigo. Mas se reza a Deus para matar um muçulmano, então ela é. Com as crianças é parecido. Um menino pode ser perdoado por suas orações; ele é jovem demais para ser responsável por isso. Mas se ele leva comida, ou até mesmo uma mensagem, para um combatente inimigo, então se torna um inimigo.

Acabei compreendendo como, na mente de um extremista, quase todo o mundo pode tornar-se um inimigo".

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Notas:
(1) - Jihad - conceito essencial da religião islâmica. Pode ser entendido como uma luta de busca e conquista da fé perfeita. Ao contrário do que muitos pensam, jihad não significa "guerra santa"
(2) - Tajwid - Corão cantado
(3) - Kaldhan - um dos campos de treinamento no Afeganistão
(4) - Tabligh - grupo fundamentalista
(5) - Al Ansar - jornal do grupo radical muçulmano GIA, da Argélia
(6) - Hajj - Denominação dada pelos muçulmanos à peregrinação à cidade santa de Meca
(7) - Mujahid - muçulmano envolvido no que ele considera ser uma jihad



Entre 1994 e 2000, Omar Nasiri trabalhou como agente secreto para os principais serviços externos de Inteligência da Europa - incluindo a DGSE (Direction Genérale de la Securité Exterieure), da França, e o MI5 e MI6, da Grã-bretanha. Do submundo das células islâmicas da Bélgica até os campos de treinamento do Afeganistão e as mesquitas radicais de Londres, ele arriscou a vida para derrotar a emergente rede global que o Ocidente viria a conhecer como Al-Qaeda.

Agora, pela primeira vez, em um livro editado pela Editora Record - "Por dentro do Jihad" - (1), Nasiri compartilha a história de sua vida - precariamente equilibrada entre o mundo dos jihadistas islâmicos e dos espiões que os perseguem. Como árabe e muçulmano, ele pôde se infiltrar nos rigidamente controlados campos de treinamento afegãos, onde encontrou homens que mais tarde se tornariam os terroristas mais procurados da Terra: Ibn al-Sheikh al-Libi, Abu Zubayda e Abukhabab al-Masri. Enviado de volta à Europa, Nasiri tornou-se um intermediário de mensagens trocas entre o recrutador-chefe da Al-Qaeda no Paquistão e o clérigo radical de Londres, Abu Qatada. 

Em suma, "Por dentro do Jihad" oferece uma perspectiva inteiramente original da batalha que se desenvolve contra a Al-Qaeda. Omar Nasiri, nome fictício, nasceu no Marrocos e atualmente vive na Alemanha.
Eis mais um trecho de "Por Dentro do Jihad":

“Em Durunta (um dos centros de treinamento de guerrilheiros internacionalistas no Afeganistão), começamos o treinamento com explosivos. Havia uma espécie de sala de aula em um dos alojamentos e Assad Allah escrevia fórmulas no quadro negro ou fazia demonstrações em uma grande mesa. Antes de mais nada, ele nos ensinou procedimentos de segurança. Passamos dias nisso, memorizando as temperaturas e umidades adequadas para a estocagem de diferentes componentes e aprendendo sobre os vários equipamentos de segurança – luvas, máscaras contra gazes, óculos – a serem usados com inúmeros produtos químicos e explosivos, Assad Allah também ensinou o que fazer se alguma experiência desse errado.

Ele não se cansava de dar o mesmo aviso:

Vocês têm um visto e devem trazê-lo todos os dias à aula. Mas eu posso tirar o visto a qualquer momento. Se vocês violarem os procedimentos de segurança, eu os mandarei para casa imediatamente. Nós sabíamos que ele não estava brincando.

Nós ficávamos no laboratório ou na sala de aula todos os dias pro cerca de 10 horas. Só parávamos para comer e fazer a salat (1). Trabalhávamos com química e matemática bastante complicadas e tínhamos que ter extrema concentração. Aprendemos a fazer todos os explosivos a partir do zero, Essa era a idéia: para onde quer que fôssemos, nós não teríamos acesso a explosivos de categoria militar ou material industrial. Nós teríamos que nos virar com o que conseguíssemos encontrar.

Aprendemos a fazer as mais diferentes coisas: pólvora, RDX, tetril, TNT, dinamite, C2, C3, C4, Semtex, nitroglicerina e daí por diante. Aprendemos a fazer cada um com produtos que poderíamos encontrar em lojas ou roubar de laboratórios escolares. Xarope de milho, tintura para cabelo, limões, lápis, açucar, café, sal de Epsom, naftalina, baterias, fósforos, tintas, produtos de limpeza, água sanitária, fluido de freios, fertilizantes, areia. Cada um desses contém componentes de diferentes tipos de materiais explosivos. Aprendemos como decompor esses produtos e como transformá-los em bombas. Eu até mesmo aprendi como fazer uma bomba com a minha própria urina.

Nós testávamos os explosivos perto de algumas ruínas na extremidade do campo. Quase sempre usávamos quantidades muito pequenas, mas medíamos a velocidade da explosão para calcular quais seriam os efeitos com cargas maiores. Falamos como e quando usar diferentes tipos de explosivos. Aprendemos quais materiais deveríamos utilizar para explodir um trem, quanto de explosivos precisaríamos e como posicioná-lo nos trilhos para obter o máximo de impacto. Aprendemos a explodir carros e prédios.

Falávamos bastante sobre aviões. Estes eram difíceis de explodir devido à segurança nos aeroportos. Ficamos sabendo que Semtex era o mais fácil de levar à bordo, por ser quase impossível de detectar. Mas o Semtex era difícil de se obter, Assad Allah lembrava-nos. Também aprendemos sobre explosivos líquidos.

Fazíamos anotações sobre tudo nos cadernos pequenos que ganhamos no campo. Mas, no fim, eles esperavam que soubéssemos tudo de cor. Quando chegasse a hora de usar os explosivos, nós não teríamos um manual diante de nós. Assim, passávamos pelas fórmulas infindáveis vezes até conseguirmos repeti-las durante o sono. E Assad Allah nos submetia a provas todos os domingos, para se assegurar que havíamos aprendido.

Certa ocasião, Assad Allah falou sobre um incidente que ocorrera durante seu próprio treinamento em explosivos. O seu grupo estava aprendendo a fazer nitroglicerina e um dos irmãos não prestava atenção. Ele deixou os materiais esquentaram mais do que o permitido. Felizmente, o instrutor viu o termômetro bem a tempo de evitar que os materiais explodissem. Havia mais 7 pessoas no laboratório e todas poderiam ter morrido.

- Vai explodir! – ele gritou para o irmão.

Havia uma pia cheia de gelo bem ao lado do recruta e ele deveria ter jogado o material ali para esfriar. Mas, em vez disso, ele correu para a porta com a bomba-relógio líquida nas mãos. Assim que saiu, a mistura explodiu. A explosão arrancou os dois braços na hora e destruiu um dos olhos.

- O irmão sobreviveu? – perguntei.

- Sim – Assad Allah responde – Ele vive agora em Londres e prega nas mesquitas. Seu nome é Abu Hamza.

Na época eu não tinha idéia de quem era esse homem e nem a importância que ele viria a ter em minha vida.

Um dia, Abdul Kerim e eu entramos em uma mesquita e vimos alguém pendurado nas vigas pelos tornozelos. Seus olhos estavam vendados e ele gritava. Havia vários irmãos parados ao redor. Eles gritavam com o prisioneiro e um apontava uma arma para a sua cabeça.

Senti calafrios. É isso que fazem com espiões, pensei. Isso é o que vai acontecer comigo, se eu for pego. Meu estômago revirou, mas não tive muito tempo para pensar nisso porque Abu Mousa veio por trás e nos tirou da mesquita.

- O que está acontecendo? – perguntei.

- Eles são do outro campo – falou. – Um dos irmãos vai numa missão. Os outros estão preparando-o para o interrogatório, no caso de ser pego. Não sabemos o que ele vai dizer. Ele pode revelar alguma coisa sobre sua missão e vocês não devem saber nada sobre ela..

Ele deve ter percebido nossa decepção e, logo depois, passou a ler um livro, em voz alta, escrito em árabe, sobre interrogatórios. Desde as primeiras frases o livro era fascinante, e incrivelmente detalhado. Começava listando os diferentes estágios de um interrogatório: da prisão, passando pelas perguntas iniciais, até as ameaças e a tortura. E, aí, vinha a série de todas as diferentes coisas que os interrogadores poderiam fazer: pendurá-lo de cabeça para baixo em sua cela, espancá-lo com as mãos, cassetetes ou fios elétricos, deixá-lo nu por vários dias, arrancar as unhas, queimar a pele com cigarros ou fogo, atacá-lo com cães, acertá-lo na virilha ou dar choques nos genitais. A lista não tinha fim e Abu Mousa disse que todas essas técnicas haviam sido empregadas em irmãos em diferentes países.

A primeira lição era simples: um mujahid (2) deve guardar tudo para si mesmo. A melhor maneira de impedir a revelação de segredos era, antes de mais nada, não os ter. Percebi que era por isso que, desde o primeiro dia, nós recebemos ordens de nunca falar com outros sobre nossa vida fora dos campos. Não era apenas porque tinham medo de espiões. Era porque queriam se assegurar de que nenhum dos irmãos pudesse revelar muita coisa se cedesse sob pressão.

Mas a fé, e não o segredo, era, de longe, a arma mais importante à disposição do mujahid. Um verdadeiro mujahid pode suportar qualquer coisa se estiver sofrendo por Deus. Ele deve se preparar para o interrogatório e a tortura do mesmo modo que se prepara para qualquer outro tipo de batalha. Abu Mousa foi bastante claro quanto a isso: o interrogatório era uma espécie de guerra psicológica. E assim, como na guerra de verdade, não havia como um irmão pudesse perder. Ou ele derrotava o inimigo ou morria como um mártir.

for capturado, o irmão não deve, jamais, ceder qualquer informação e deve compreender que nenhuma vantagem pode ser conseguida assim. Somente levaria a mais tortura, porque os interrogadores perceberiam que o prisioneiro teria segredos para revelar. Mas os interrogadores jamais o matariam, porque não teria utilidade morto.

Como explicado por Abu Mousa, o interrogatório era uma grande oportunidade para um irmão. Ele poderia aprender mais sobre o inimigo e disseminar contra-informação que ajudasse seu grupo a atingir o objetivo. Esse tipo de manipulação exige habilidade e os irmãos devem praticar isso, assim como treinam para o uso de uma arma. Ele deve aprender a fazer os interrogadores falarem. Quanto mais durar o interrogatório, mais informações os interrogadores revelarão sobre o que sabem e sobre sua estratégia. O irmão pode usar essas informações para delinear suas próprias respostas, para dizer ao inimigo mentiras que pareçam verdades. Para um mujahid, o contra-interrogatório é apenas mais uma batalha tática.

Muitos anos depois eu pensaria novamente nessa lição, quando comecei a aprender mais sobre Ibn al-Sheikh al-Libi e seu papel dentro do que veio a ser conhecido por al-Qaeda. Ibn Shekh continuou a dirigir campos de treinamento no Afeganistão durante os anos 1990 e era próximo a bin-Laden. Ele foi capturado logo após a invasão dos americanos ao Afeganistão depois dos ataques de 11 de setembro, sendo levado de avião para o Egito, onde foi torturado pela CIA. Lá, ele disse aos interrogadores que Saddam Hussein dera à al-Qaeda informações sobre a confecção de armas químicas. Era às informações de Ibn Shekh que George W. Bush e Collin Powell se referiam quando disseram ter provas de que Saddam Hussein tinha conexões com a al-Qaeda. Eles usaram o que Ibn Sheikh lhes contara para justificar a invasão do Iraque.

Mas tarde Ibn Shekh disse que a historia a respeito de Saddam Hussein não era verdadeira. Na verdade, a CIA sabia que a história de Ibn Shekh não era confiável bem antes de Collin Powell se referir a ela em seu famoso discurso na ONU. Mas, quando esse fato emergiu, já não tinha mais importância. A América já estava em guerra.

Muitos dizem que Ibn Shekh mentiu aos captores por desespero, porque estava sendo torturado brutalmente. Eu sei que isso não é verdade. Ela havia sido preparado para interrogatórios, do mesmo modo que o irmão da mesquita estava se preparando. Ele sabia o que fazer.       

Não. Ibn Sheikh não cedeu à pressão da tortura. Ele manipulou seus interrogadores com a mesma habilidade com que empunhava sua arma. Ele sabia o que seus interrogadores queriam e ficou contente em dar-lhes. Elequeria ver Saddam derrubado ainda mais do que os americanos. Como ele nos disse em Khaldan, o Iraque era o próximo grande jihad                                                                                                                                                                                 
Em algum lugar, numa câmara de tortura secreta. Ibn Sheikh venceu sua batalha”.
                         
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Notas:
(1)   Salat ou Salah (árabe:صلاة ) refere-se às cinco orações rituais que cada muçulmano deve realizar diariamente voltado para Meca. É um dos Cinco Pilares do Islão (arkan al-Islam). Em outras línguas estas orações são chamadas de Namaz.
(2) Mujahid - muçulmano envolvido no que ele considera ser uma jihad



Os ataques de 11 de setembro de 2001 não vieram do nada. Durante os anos 1990, uma série de movimentos islâmicos violentos começou a se congregar, desviando seu foco dos conflitos locais, em seus países, para o “inimigo distante” dos EUA e do Ocidente. A organização emergente ficaria conhecida como Al-Qaeda. O relato de Omar Nasiri, autor de Por Dentro do Jihad apresenta uma percepção particular desse período crucial que parece pouco compreendido.

Sua história é única, especialmente porque ele fornece a perspectiva incomum de alguém que se infiltrou nessas redes terroristas. A noção freqüentemente repetida de que a derrota do terrorismo exige um bom serviço de Inteligência e a coleta de dados de Inteligência exige indivíduos dispostos a arriscar suas vidas para se transformarem em espiões, E suas histórias raramente são contadas.

Esse foi o início da introdução ao livro de Omar Nasiri, escrita em setembro de 2006 por Gordon Corera, correspondente da BBC para Assuntos de Segurança.Este texto é um resumo do que escreveu Gordon Corera.

Tendo passado mais de sete anos trabalhando para os Serviços de Inteligência franceses, britânicos e alemães, Nasisi apresenta a visão de quem está por dentro de como essas agências funcionam e seu relato de reuniões, conversas e técnicas de espionagem dos vários serviços é de um raro detalhamento.

Mas o que fica claro de seu relato é que a rede emergente era muito mais organizada e determinada do se supunha. Os campos de treinamento afegãos foram a incubadora da atual ameaça terrorista, e Nasiri oferece o quadro mais detalhado até agora da vida dentro desses campos – um quadro bem mais rico e preocupante do que qualquer outro já visto (1)

Embora nascido no Marrocos, os argelinos desempenham um papel central no relato de Nasisi, já que eles constituíam o núcleo da rede terrorista islâmica na Europa antes do 11 de setembro. A Argélia mergulhou em uma sangrenta guerra civil após o Exército ter cancelado as eleições de janeiro de 1992 para impedir que a Frente Islâmica de Salvação (FIS) conquistasse o poder.

A violência eclodiu e um conjunto de grupos insurgentes apareceu. O mais violento era o Grupo Islâmico Armado (GIA). Acredita-se que até 3 mil argelinos tenham combatido os soviéticos no Afeganistão nos anos 1980 e a Argélia foi o primeiro país a sentir o impacto do retorno dos veteranos da guerra afegã. O GIA era liderado por centenas de homens endurecidos pela guerra que voltaram radicalizados e dispostos a empregar táticas cada vez mais brutais. O GIA atraiu o apoio de redes dentro das comunidades de imigrantes na Europa. A princípio essas redes de apoio lidavam principalmente com propaganda, mas logo passaram a oferecer dinheiro, auxílio logístico, como passaportes falsos e, por fim, armas ao GIA.

Quando regressou à Bélgica em 1994, Nasiri descobriu que a casa de sua mãe havia se tornado um importante centro de operações do GIA. O boletim informativo Al Ansar era feito e distribuído ali. Ele emergiu como a publicação oficial do GIA, embora com o passar do tempo artigos de outras fontes começassem a ser divulgados, inclusive de outras organizações islâmicas, como o Grupo Combatente Islâmico líbio, grupos
marroquinos e grupos egípcios ligados a Aiman al-Zawahiri. O Al Ansar foi o pioneiro da união de redes militantes islâmicas nacionais em um movimento global e seus textos eram um alerta às autoridades do que vinha pela frente.

Não demorou muito para que o sangrento conflito na Argélia começasse a se alastrar para a Europa. A França, o antigo senhor colonial da Argélia, na visão dos jihadistas, havia apoiado o golpe e, desse modo, tornou-se um alvo. A primeira ilustração dramática da ameaça surgiu quando um grupo de terroristas do GIA dominou um jato da Air-France na pista do aeroporto de Argel em 24 de dezembro de 1994.

Em março de 1995 uma série de buscas foram iniciadas pelas autoridades belgas e, durante uma busca em um veículo foi encontrado um pacote contendo um manual de treinamento terrorista de 8 mil páginas, cujo frontispício o dedicava a Bin Laden. O manual revelou um verdadeiro tesouro de informações e uma das primeiras indicações da extensão da rede e do papel de Bin Laden em suas operações. Isso foi confirmado poucos meses depois, no verão de 1995, quando uma onda de atentados a bomba atingiu a França, inclusive o metrô de Paris.

Uma corrente de pensamento sustenta que o GIA desde o começo estava tomado por espiões do serviço secreto argelino. E mais, que estes incluíam agentes provocadores que, por volta de 1995, estavam deliberadamente direcionando a campanha de violência para a França, para tentar atrair Paris para o conflito, opondo-se aos islâmicos apoiando o Estado argelino.

De acordo com um ex-oficial de Inteligência, cerca de cem a duzentos residentes franceses viajaram para o Afeganistão para receber treinamento durante a década de 1990. Alguns filiaram-se ao jihad internacional, outros simplesmente queriam poder voltar para casa e apregoar que sabiam manejar um AK-47

Nasiri mostrou-se capaz de cumprir sua missão e o relato de suas viagens oferece um retrato pessoal extremamente revelador de como se infiltrou em círculos jihadistas e abriu caminho até o núcleo da Al-Aqeda. Viajando através da Turquia e depois Paquistão, ele infiltrou-se em grupos islâmicos radicais.

Em Peshawar, Paquistão, Nasiri conheceu o palestino Abu Zubayda, coordenador e controlador do acesso a vários campos de treinamento afegãos. “Ele era um homem que fazia as coisas acontecerem, no sentido administrativo”, explica Mike Scheuer, chefe da unidade Bin Laden da CIA de 1996 a 1989. Abu Subayda acabou sendo preso em março de 2002.

Cerca de duas dúzias de campos de treinamento foram montados no Afeganistão. Os campos tiveram um papel fundamental na transição do jihad original dos anos 1980, para o jihad de múltiplas nações dos anos 1990, bem como na emergência do final da década de 1990 de umjihad global sob a Al-Qaeda. Eles foram o caldeirão nos quais diferentes grupos começaram a trabalhar juntos, forjando uma identidade comum,

Não existia uma única fonte de recursos ou controle dos campos. O Afeganistão estava mergulhado no caos em meados dos anos 1990. Os soviéticos tinham sido expulsos em 1989. Um governo submisso liderado por Mohammad Najibullah, durou até 2002, quando foi derrubado pelas facções mujahidin, que começaram a lutar entre si pelo poder, sendo que vários chefes tribais ficaram com o controle de bolsões do país.

Embora Bin Laden tenha deixado o Afeganistão após o fim da guerra com os soviéticos e residisse no Sudão no começo dos anos 1990, ele continuou a financiar alojamentos e instalações de treinamento dentro do Afeganistão, inclusive, segundo Nasiri, a alimentação no campo que freqüentou.

Pouco depois, o ISI - Serviço de Inteligência do Paquistão (1) - começou a apoiar o Talibã como uma força proposta para estabilizar o Afeganistão e fortalecer os interesses de segurança do Paquistão.

Em meados dos anos 1990 o número de nacionalidades representadas e a disciplina de treinamento eram notáveis e muito maiores do que anteriormente se suspeitava. Grupos da Argélia, Chechênia, Caxemira, Quirguistão, Filipinas, Tadjiquistão e Uzbesquistão recebiam treinamento militar que colocariam em prática quando retornassem a seus países. Grande número de árabes, especialmente da Arábia Saudita, Egito, Jordânia e Iêmen, também passaram por lá, assim como terroristas da Europa, África do Norte e outras regiões, que desejavam participar dojihad.

O treinamento que Nasiri recebeu em Khaldan era altamente organizado e extensivo. Boa parte do aprendizado baseava-se em manuais de treinamento dos EUA obtidos durante a luta contra os soviéticos. Os participantes também passavam quase o mesmo tempo em treinamento religioso. A preparação espiritual era considerada um aspecto central do jihad, mais importante que o treinamento físico.

Entre os que passaram por Khaldan havia terroristas envolvidos nos dois ataques, de 1993 e 2001, Ao World Trade Center (inclusive Mohammad Atta, líder dos ataques do 11 de setembro); pessoas envolvidas nos atentados a bomba de 1998 contra embaixadas dos EUA, Ahmed Ressam, o fracassado bombardeador do milênio, os dois britânicos dos “sapatos-bombas”, Richard Reid e Sajid Badat; e Zacarias Moussaoui, sentenciado em 2006 à prisão perpétua pelo envolvimento no complô do 11 de setembro. Mas o líder de Khaldan em meados dos anos 1990 era um homem chamado Ibn al-Sheikh al-Libi, com quem Nasiri passou um tempo considerável. al-Libi havia combatido no Afeganistão da década de 1980.

Preso em novembro de 2001, al-Libi foi o primeiro membro do alto escalão da Al-Qaeda a ser capturado pelos EUA após os ataques. Depois de uma disputa entre o FBI e a CIA ele foi entregue ao Egito, onde pode ter sido submetido a maus tratos sendo que informações extraídas de seu interrogatório foram utilizadas por autoridades dos EUA para declarar a existência de vínculos entre o Iraque e a Al-Qaeda, com base na alegação de al-Libi de que o Iraque oferecera treinamento à Al-Qaeda a partir de dezembro de 2000. Isso foi citado pelo vice-presidente Cheney , pelo secretário de Estado Collin Powell, em seu decisivo discurso na ONU em fevereiro de 2003, e pelo presidente George Bush, em Cincinnati, em outubro de 2002, quando declarou que “ficamos sabendo que o Iraque treinou membros da Al-Qaeda na produção de bombas, venenos e gazes”.

O problema era que al-Libi mentiu. Em janeiro de 2004, al-Libi desmentiu suas declarações sobre o Iraque, forçando a CIA a cancelar inúmeros relatórios de Inteligência baseados em suas declarações.

Especulou-se que ele estaria deliberadamente fornecendo informações falsas para fazer os EUA atacarem o Iraque, pois expressava seu desagrado pelo regime secular de Saddam Hussein no Iraque e era um homem altamente treinado para resistir a interrogatórios. Na primavera de 2006, segundo alguns relatos, al-Libi foi entregue às autoridades líbias.

Em Khaldan, a formação de Nasiri parece tê-lo diferenciado dos demais recrutas, tanto assim que ele foi um dos poucos selecionados para seguir ao campo de Durunta, mais avançado. Durunta fornecia um treinamento mais individualizado em explosivos e terrorismo. Em Khaldan os recrutas aprendiam a detonar explosivos; em Durunta eles aprendiam a fazer explosivos e detonadores a partir do zero. Em Durunta o treinamento não era para o combate militar, mas para serem indivíduos solitários que agiriam como os clássicos agentes terroristas que ficam na espera até chegar a hora da ação – um agente dormente – necessitando assim de um conjunto diferente de habilidades.

Entre os que se formaram em Durunta antes da sua destruição por ataques aéreos dos EUA no fim de outubro de 2001, está Ahmed Ressam, mas tarde condenado por envolvimento no complô de atentado a bomba contra o Aeroporto Internacional de Los Angeles.

Havia agentes de Inteligência nos campos perto da fronteira paquistanesa, mas outros campos, como os de Durunta, eram muito mais difíceis de serem infiltrados. Algumas estimativas afirmam que, entre 1996 e os ataques de 11 de setembro , de 10 mil a 20 mil terroristas passaram pelos campos para serem treinados. Outros acreditam que esse número pode chegar a 100 mil. Ninguém apurou para onde foram esses terroristas, ou quem eles, por sua vez, foram treinar.

No momento em que Nasiri saiu do Afeganistão, na primavera de 1996, Bin-Laden retornou e chegou num momento crucial, em que o Talibã estava conquistando o poder.. Em setembro o Talibã já havia tomado Jalalabad e forneceria a Bin-Laden e à Al-Qaeda um porto seguro no qual começariam a planejar operações mais drásticas.



CAPÍTULO 4 

Após a volta do Afeganistão e um longo período sem contato, Nasiri encontrou-se com o DGSE e recebeu uma nova missão. Com a repressão na França e Bélgica, foi para o ambiente mais tolerante de Londres que muitos dos jihadistas começaram a se mudar. “Londres era o foco”, explica Alain Grignard um oficial antiterrorista belga, pois o local servia de trampolim para a passagem da era de extremistas islâmicos nacionais para a rede global fundada no caldeirão afegão.

A segunda metade da década de 1990 foi o período em que a capital britânica ganhou o apelido de “Londrestão”, um título dado por autoridades francesas enfurecidas com a crescente presença de radicais islâmicos em Londres e com a omissão das autoridades britânicas frente ao problema. Historicamente, Londres sempre foi um lar para os dissidentes e desde os anos 1980 cada vez mais se tornou refúgio para extremistas islâmicos que ganhavam asilo de autoridades pouco conscientes de suas atividades.

Pouco depois de chegar a Londres, Nasiri mais uma vez travou contato com o Al Ansar, agora impresso na capital britânica. Entre os que estavam envolvidos com Al Ansar em Londres estava Rachid Ramda, que fora visto na França e na Bélgica freqüentando círculos do GIA. Quando o juiz contra-terrorista francês Jean Louis Brugière pediu à Grã-Bretanha que prendesse Ramda, que era procurado por conexões com o financiamento dos atentados a bomba no metrô de Paris, a reação britânica foi dizer que não poderia prendê-lo, pois ele nada fizera de errado no Reino Unido. Ramda finalmente foi detido, mas lutou contra a extradição por dez anos, para a crescente irritação dos franceses. Somente em dezembro de 2005 foi que as autoridades da Grã-Bretanha o transferiram para a custódia francesa, sendo que ele viria a ser condenado, em Paris, em março de 2006 pelos atentados a bomba de meados dos anos 1990.

Em Londres, Nasiri foi comandado pelos serviços de Inteligência franceses e britânicos, recebendo a missão de se infiltrar na comunidade de radicais.

Abu Hamza e seus seguidores haviam transformado a mesquita de Finsbury Park no principal santuário e centro de conexões, não apenas da Grã-Bretanha, mas de toda a Europa, para aqueles comprometidos com o jihad internacional. Cerca de 200 pessoas dormiam no subsolo da mesquita. Uma estimativa calcula que 50 freqüentadores da mesquita morreram em operações terroristas e ataques insurgentes em conflitos no exterior.

A mesquita funcionava como um centro de recrutamento para grupos aliados à Al-Qaeda. Terroristas eram mandados ao Afeganistão com passagens aéreas, dinheiro e cartas de apresentação de Abu Hamza para entrar em Khaldan.

A tolerância dos britânicos, bem como sua tradição de liberdade de expressão, multiculturalismo e concessão de asilos, foram exploradas e as autoridades não desejando interferir na liberdade de expressão, não conseguiram compreender o tipo de retórica inflamada que emanava da mesquita de Finsbury Park e tampouco suas atividades.

Muitos países, além da França reclamaram dessa mesquita, mas nada foi feito. Somente em janeiro de 2003 é que as autoridades britânicas decidiram agir, fechando-a temporariamente, mas Abu Hamza continuou livre, pregando na rua em frente à mesquita. Somente quando os EUA emitiram um pedido de extradição é que as autoridades britânicas agiram, em parte pelo constrangimento causado pela pressão americana. Em outubro de 2004, Abu Hamza foi acusado e por fim condenado por ser o mentor de assassinatos e outros crimes.

Outra figura-chave espionada por Nasiri foi Abu-Watada, um palestino-jordaniano que havia entrado no Reino Unido em 1993 com um passaporte falso . A Jordânia exigiu a sua extradição, mas a Grã-Bretanha não a concedeu.

Para os militantes islâmicos a necessidade de autoridade religiosa é de grande importância. Os nomes daqueles que se acredita terem recebido treinamento religioso de Abu Qatada forma um “quem é quem” de militantes islâmicos baseados na Europa. Fitas com sermões de Abu Qatada foram encontradas no apartamento de Hamburgo usado por Muhammad Atta, um dos atacantes do 11 de setembro.

A base de operações de Abu Qatada ficava no Four Feathers Club, em Londres. Nasiri diz que autoridades britânicas mandaram-lhe deixar Abu Qatada em paz e centrar suas atividades em Hamza. Acredita-se que Qatada também tivesse contatos com o MI5, mas não está claro quem manipulava quem.

Finalmente, em fevereiro de 2001 Abu Qatada foi interrogado pela Polícia, que encontrou 170 mil libras, em dinheiro, em sua casa, parte dessa quantia dentro de um envelope onde se lia “para os mujhadin da Chechênia”.

Autoridades britânicas citam a estrutura legislativa como um problema. Em meados dos anos 1990, conspirar dentro da Grã-Bretanha para cometer atos terroristas no exterior não era crime. Assim grupos como o Hamas e os Tamil Tigers, bem como o GIA, começaram a usar o Reino Unido como pólo central. A Polícia investigava um problema apenas se existissem evidências de que leis tivessem sido desobedecidas. A Polícia e os Serviços Secretos não priorizavam a coleta de informações sobre esses grupos. Os especialistas em contraterrorismo britânicos continuavam focados no terrorismo republicano irlandês, em vez do terrorismo islâmico.

Em fevereiro de 1996, uma bomba de meia tonelada explodiu na região portuária de Londres sinalizando uma nova fase de atividades após o cessar fogo irlandês. O MI5 e a Polícia estavam envolvidos em uma disputa burocrática sobre quem comandaria a política contraterrorista na Irlanda do Norte – por fim, vencida pelo MI5 – que também canalizava recursos e energia nessa direção.

Foi somente no início de 1998 que as autoridades britânicas começaram a ouvir mais sobre a Al-Qaeda. Na época ninguém se preocupava com Abu Qatada, Abu Hamza ou as redes do Norte da África. A preocupação girava em torno de grupos de árabes que haviam chegado por volta de 1998, predominantemente do Egito, bem como de outros árabes associados a Bin-Laden, como Khalid al-Fawwaz, que se acreditava vinha administrando o escritório de mídia de Bin Laden em Londres, organizando entrevistas para jornalistas ocidentais e publicando declarações em seu nome.
Khalid al-Fawwaz foi posto sob custódia britânica à espera de extradição para os EUA.

Embora as autoridades britânicas tenham começado a considerar a ameaça da Al Qaeda a partir do início de 1998, ela era percebida como distinta de figuras como Abu Qatada, Abu Hamza e os argelinos operando no Reino Unido.

O terrorismo internacional e particularmente o terrorismo ligado aos islâmicos, não era visto como algo que ameaçasse diretamente o país. A França poderia ser um alvo primário, devido ao seu envolvimento na Argélia, mas não o Reino Unido.

A Grã Bretanha está sentindo agora o impacto do longo prazo de sua tolerância para com os elementos radicais nos anos 1990-. A radicalização que se espalhou em algumas comunidades britânicas não se estabeleceu da noite para o dia.

Em 1998, um novo conjunto de ações da Polícia na Bélgica resultou em mais provas de natureza internacional das redes jihadistas e da ameaça que representavam. Os detidos vinham da Argélia, Marrocos, Síria e Tunísia e tinham conexões com inúmeros grupos islâmicos diferentes, bem como com Abu Zubayda, Afeganistão, Bósnia e Paquistão. Foram descobertos detonadores e materiais para a fabricação de explosivos e havia suspeitas de que a Copa do Mundo, que se realizaria na França no meio daquele ano, seria um alvo.

A Europa sempre foi uma base central de operações da Al Qaeda, um lugar no qual diferentes grupos islâmicos radicais forjaram suas alianças. Os sinais de alerta estavam ali, mas somente uns poucos os compreenderam.

Cinco anos após os ataques de 11 de setembro, é a Europa – e o Reino Unido em particular – não os EUA, que se defronta com o maior desafio do terrorismo.

Foi uma conquista de Bin Laden a globalização da noção de jihad. Reunir grupos que antes se concentravam unicamente em seus próprios conflitos locais – na Argélia, Ásia Central, Chechênia e outras regiões - e convencê-los a fazer parte de uma luta maior. Uma luta contra o “inimigo distante” - os EUA -, que apoiava os governos aos quais se opunham. Uma luta que devia ser travada sob a bandeira da Al Qaeda.

Em fevereiro de 1998 Bin Laden divulgou uma nota declarando a formação da Frente Islâmica Mundial para a Jihad contra Judeus e Cruzados. Ele anunciou uma fatwa de que “matar os americanos e seus aliados – civis e militares – é um dever pessoal de cada muçulmano que puder fazê-lo em qualquer país em que for possível fazê-lo” . Pouco depois, em agosto de 1998 veio a primeira operação de grande escala da Al Qaeda contra os EUA, atacando suas embaixadas na Tanzânia e no Quênia.

A história de Omar Nasiri termina quando ele se muda para a Alemanha. Lá, em relação aos serviços secretos alemães, entra em colapso. Na sua visão, eles o abandonaram sem jamais fornecerem proteção e a nova identidade que os franceses haviam prometido inicialmente. Quase quatro anos depois, enquanto assistia aos atentados a bomba em Londres em 7 de julho de 2005, ele decidiu que queria contar a sua história. Isso o fez procurar a BBC e a escrever o relato dos sete anos em que viveu como espião no emergente movimento jihadista.


Esse relato foi resumido nestes quatro capítulos.


Fonte: Alerta Total


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Carlos I. S. Azambuja é Historiador.