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domingo, 20 de julho de 2014
AVIÃO DA MALAYSIA PODE TER SOFRIDO ‘ATAQUE HOMOFÓBICO’
Esta é a explicação de JEAN WYLLYS para queda de avião
Por Myrcia Hessen
Deputado Jean Wyllys (Psol-RJ). Foto: Divulgação
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O deputado Jean Wyllys (Psol-RJ) causou alvoroço nas redes
sociais ao levantar a hipótese de que o Boeing-777, da Malaysia Airlines, foi,
na verdade, vítima de um “ataque homofóbico”. O avião caiu na Ucrânia, na
região de Donetsk, após ser atingido por um míssil. O voo saiu de Amsterdã, na
Holanda, e seguia para Kuala Lumpur. Com 298 passageiros, a principal
explicação para o ataque, até o momento, seria o conflito entre Rússia e
Ucrânia, que, segundo Jean contou com a participação direta dos Estados Unidos
– agora apontado como possível culpado, juntamente com a Rússia. “Meu olhar
sobre o episódio é mais humanitário e menos preocupado com a geopolítica”,
declarou o parlamentar sobre o caso.
Segundo ele, “há outro lado nefasto no episódio”, já que do
total de passageiros, havia mais de 100 pessoas que seguiam para a 20ª
Conferência Mundial de Aids, na Austrália. “173 eram da Holanda, país
referência no financiamento de projetos e no debate avançado sobre HIV e AIDS,
dentre eles, Joep Lange, um cientista reconhecido mundialmente por ter dedicado
mais de 30 anos da sua vida à pesquisa sobre o HIV e a Aids”, justificou. “Caso
essas informações se confirmem, haverá um impacto dessas mortes nas pesquisas e
nas políticas públicas futuras de prevenção e combate à AIDS – e isto é muito
grave e desalentador!”, completou.
Jean garante não querer estimular mais uma “teoria da
conspiração”, mas insiste em questionar: “o fato de haver especialistas em
HIV/AIDS à bordo do avião terá sido uma mera coincidência ou pode apontar para
uma outra explicação sobre o abatimento da aeronave numa região da fronteira
entre dois países conservadores?”. Mesmo deixando claro se tratar de uma
pergunta, o post já teve quase mil compartilhamentos e mais de 200 comentários,
a maioria horrorizada com a posição do deputado. “Jean Wyllys, onde eu pego o
alvará para falar bosta a vontade?”, escreveu o usuário João Júnior.
Fonte: Diário do Poder
Por que governos de esquerda fazem políticas “neo”-liberais?
Por Alberto Mansueti
Na Venezuela, Maduro e os chavistas discutem se devem
aplicá-las ou não e na Argentina, Cristina sempre teve suas dúvidas. Porém, são
políticas que desde há anos os governos de Ortega na Nicarágua, Santos na
Colômbia, Correa no Equador, Humala no Peru, Morales na Bolívia, Tabaré e
“Pepe” no Uruguai, e igualmente Lula e Dilma no Brasil, por exemplo, as
aplicam.
“Neo” liberais significa mais ou menos inspiradas no
Consenso de Washington (CdeW) dos anos 90, uma lista de “recomendações de
política”, que na ocasião os burocratas do FMI e do Banco Mundial viram como
“viáveis e sustentáveis”, quer dizer: aceitáveis pelos principais atores.
São 10, e se resumem assim: 1. Disciplina fiscal e orçamento
em equilíbrio, 2. priorizar o gasto público: em medicina básica, educação
primária, infra-estrutura, 3. impostos: baixar taxas para subir a arrecadação, 4. tipos de juros: livres, 5. taxa de câmbio: “competitiva”, 6. substituir
barreiras quantitativas às importações por taxas alfandegárias e depois
reduzi-las pouco a pouco até 10% ou 20% na média, 7. alentar todo o
investimento estrangeiro direto,
8. privatizar empresas estatais, 9. eliminar
barreiras legais à entrada e saída nos mercados e 10. reforçar direitos de
propriedade. Até aqui diz o CdeW.
As principais razões dos governos socialistas para fazer
estas políticas são quatro:
(I) A primeira é que o marxismo econômico eles já fizeram:
aplicaram-no até onde se podia, entre os anos 1930 e 1970 mais ou menos, em
quase todos os países do mundo.
Marxismo econômico é aquele “Programa Mínimo” do “Manifesto
Econômico” de 1848, redigido por Marx e Engels. Constava de dez pontos que
convém lembrar: 1. a
“reforma agrária”, 2. o imposto progressivo aos ingressos, 3. o imposto às
heranças, 4. a
estatização das grandes empresas e companhias estrangeiras, 5. o Banco Central
com seu monopólio de emissão, 6. transportes do Estado, 7. empresas de
propriedade estatal e indústrias e comércios sob o controle do governo, 8. leis
salariais e sindicais, 9. imposto aos lucros extraordinários, 10. educação
pública socializada.
Isto é comunismo, embora em “grau mínimo”, segundo Marx e
Engels. Deve-se acrescentar a medicina socializada, ponto que eles viram “muito
avançado” para um programa “mínimo”. E a questão é que já fizeram tudo isto, há
anos, e muitas destas políticas estão vigentes e são vistas como normais,
correntes, inclusive parte integral e intocável do sistema “capitalista”.
O “laissez faire” já não existe porque os socialistas o
suprimiram há muito tempo e, em troca, impuseram uma ditadura estatal à
economia, embora só até certo ponto: o ponto no qual já não podem mais
“avançar” sem cair na tragédia do parasita que mata o organismo hospedeiro. Ir
além seria exterminar 100% da produção, que quase passa nos anos 70 com o
“cepalismo” [1], e por isso retrocederam nos anos 90: privatizaram segundo o
CdeW, cedendo nos pontos 4 e 7 do Manifesto. Dois passos atrás, para depois ir
três adiante, disse Lenin.
As esquerdas enfrentam o dilema do parasita: têm de comer,
então alguém tem de produzir. Assim que ao menos “no momento”, como disse
Chávez, os socialistas pactuaram com os mercantilistas, velhos e novos,
respeitaram seus privilégios, em troca de seguir produzindo sob as condições
ditadas pelos socialistas, que comem dos altos impostos que eles e a classe
média pagam. E para isso, o CdeW serve.
(II) Segunda razão: as políticas do CdeW não são muito
liberais, são só um remédio para os piores resultados do “cepalismo” dos anos
70, ou seja, o barril sem fundo das empresas estatais e a diluviana impressão
de cédulas, cujos efeitos pretendiam “conter” com meios grosseiros: controles
de preços, de câmbios e tipos de juros. Até aí. Porém, o CdeW não é
incompatível com um “Grande Estado” educador, médico, banco-centralista e
regulamentador. Não figura a tripla redução do governo em funções, em poderes e
em gastos, como seria se de verdade a lista tivesse sido inspirada no
liberalismo clássico.
É um ticket de saída daquele velho estatismo selvagem de
Allende, Cámpora, J. J. Torres, Velazco Alvarado e Alan García I (primeiro
mandato), e de entrada a um estatismo mais “prolixo”, social-mercantilista: no
contexto do “Pacto Social” com os empresários mercantilistas, nacionais ou
estrangeiros. Por isso já nos anos 90 estas políticas foram seguidas pelos
líderes e governos surgidos dos partidos nacional-populistas e de esquerdas,
todos anti-liberais, como o PRI no México, o APRA no Peru, o MNR e o MIR na
Bolívia, o Peronismo na Argentina, etc. Porque o CdeW não tem nada de
liberalismo! Deve-se chamar “Neo” mercantilismo, ou melhor ainda: “Neo”
estatismo.
(III) A terceira razão é estratégica: adotando a esquerda
oficialista, o CdeW desde o governo tira as bandeiras da oposição que, de per
si já é muito inepta e incapacitada, mas desta maneira fica totalmente desorientada,
paralisada e muda, catatônica, sem saber o que fazer, o que pensar nem o que
decidir. Assim os presidentes do Foro de São Paulo são re-eleitos sem maior
dificuldade.
(IV) Por fim a quarta: o CdeW é 100% compatível com o
marxismo cultural, a prioridade nº 1 destas esquerdas de agora. O marxismo
cultural é essa enorme tarefa destrutiva, embora já não da economia senão do
casamento, da família (aborto, eutanásia, matrimônio homossexual, etc.), da
religião, do “meio-ambiente”, da doutrinação na escola, enfim, todo esse
“politicamente correto” do “Socialismo do Século XXI”... que é tema para outro
artigo.
Tradução: Graça Salgueiro
Fonte: Mídia Sem Máscara
_____________
Alberto Mansueti é advogado e cientista político –
http://albertomansueti.com/.
Nota da tradutora:
[1] Cepalismo refere-se à CEPAL (Comissão Econômica para a
América Latina), fundada pela resolução 106 do Conselho Econômico e Social da
ONU de 25 de fevereiro de 1948, tendo seu nome alterado em 27 de julho de 1948
pata Comissão Econômica para a América Latina e o Caribe. A CEPAL é uma das cinco comissões regionais
das Nações Unidas e sua sede é em Santiago do Chile. Foi fundada para
contribuir com o desenvolvimento econômico da América Latina, coordenar as
ações dirigidas à sua promoção e reforçar as relações econômicas dos países
entre si e com as demais nações do mundo. Posteriormente seu trabalho se
ampliou aos países do Caribe e se incorporou o objetivo de promover o
desenvolvimento social.
As formas de luta pelo poder: a forma pacífica
Por Carlos I. S. Azambuja
Durante a II Guerra Mundial, quando a União Soviética
lutava, junto à Inglaterra, EUA e outros países, contra o nazismo, Stalin
propôs, em 15 de março de 1943, a dissolução da III Internacional, dissolução
que foi materializada em 9 de junho de 1943 através de um comunicado do Comitê
Executivo da IC, assinado por Giorgy Dimitrov, então Secretário-Geral .
Dentre os partidos comunistas que aprovaram a dissolução,
estavam os da Argentina, Cuba, Colômbia e Chile. No comunicado, Dimitrov
assinalava expressamente que “a proposição de dissolver a Internacional
Comunista havia sido aprovada unanimemente pelas seções que tiveram a possibilidade de
comunicar suas decisões em tempo”.
Com mais eloqüência que esse parco comunicado do Comitê
Executivo da IC, anteriormente, em 28 de maio desse mesmo ano, em uma
entrevista à agência de notícias “Reuters”, em Moscou, Stalin assinalou
que “a dissolução da III Internacional
fora acertada porque, assim, evidencia a mentira das forças hitleristas, que
afirmam que Moscou trata de imiscuir-se na vida de outras nações para
bolchevizá-las. Agora, poremos fim a essa calúnia. Essas calúnias afirmam que
os partidos comunistas dos diversos países atuam não no interesse de seus
povos, e sim sob ordens exteriores. Isso também facilitará as atividades dos
patriotas, nos países amantes da liberdade, para unir as forças progressistas
de seus respectivos países, sem distinção de partidos e de credos religiosos,
em um campo único de libertação nacional, para desenvolver a luta contra o
fascismo”.
O ato do Comitê Executivo da III Internacional, inspirado
por Stalin, dissolvendo essa organização, objetivou, portanto, dar fim a “uma
calúnia”. Todavia, Stalin conservou no território soviético os antigos e
futuros estados-maiores de todos os partidos comunistas europeus: romeno,
polonês, húngaro, búlgaro, tcheco, alemão, italiano e francês que, quando do
término da guerra, faria regressar aos seus países.
Em 5 de outubro de 1947, Stalin criou o Kominform
(Departamento de Ligação e Informação dos Partidos Comunistas Europeus).
A doutrina supostamente científica do marxismo-leninismo
define a revolução socialista como resultado de um combate simultâneo em várias
frentes: política, econômica e ideológica. Todavia, as formas sob as quais se
desenvolve esse combate dependem da combinação concreta de fatores internos e
externos de cada país.
Entre os fatores internos podem ser citados os níveis de
desenvolvimento econômico e cultural do país; o grau de organização e
influência do partido comunista local; se ele está ou não na legalidade; a
correlação de forças entre as classes; as tradições nacionais; etc. Entre os
fatores externos figuram a solidez das ligações do partido comunista nacional
com partidos comunistas de outros países; a situação internacional geral; as
relações com países vizinhos; etc.
Cada caso particular determinará a originalidade da tática a
ser implementada e as formas de luta pelo poder que, por mais variadas que
possam ser, podem ser resumidas, num plano muito geral, em duas essenciais: a
forma pacífica e a forma não pacífica. Esta pressupõe o emprego da luta armada.
A absolutização tanto de uma como de outra dessas formas de
luta não é aceita pela ortodoxia marxista. A prática revolucionária e as
condições objetivas e subjetivas é que irão determinar, em cada momento, a
forma de luta a ser utilizada. Ambas, no entanto - e isso é importante ter
sempre presente -, a pacífica e a não pacífica, são revolucionárias.Qualquer
que seja a forma pela qual a revolução socialista venha a se processar, ela
implicará sempre na derrubada do regime dominante e, nesse sentido, será sempre
um exercício de violência, pois, em última análise, ninguém renuncia ao poder e
à propriedade privada de livre e espontânea vontade.
Após fevereiro de 1917, na Rússia, quando foi instalado o
governo de Kerensky, Lenin chegou a considerar a possibilidade de uma conquista
pacífica do poder, mediante a passagem de todo o poder aos sovietes. Essa
perspectiva foi considerada por Lenin, naquele momento, devido à fraqueza e
desorganização da burguesia russa. “Infelizmente”, segundo a história da
Revolução Bolchevique escrita na União Soviética, “a via pacífica não foi
tornada possível, face à reação dos expropriadores, que se recusaram a ser
expropriados sem luta”.
Desde então, a existência de um Estado fraco, contraposto à
força e organização de um partido comunista que se considera o “estado-maior do
proletariado”, passou a ser considerada a condição fundamental para um
desenvolvimento “pacífico” da revolução socialista, se é que uma revolução,
qualquer que seja, terá condições de desenvolver-se pacificamente.
Posteriormente, por considerar que a modificação da
correlação de forças em nível internacional aumentara as possibilidades de um
desenvolvimento “pacífico” da revolução socialista, a concepção
marxista-leninista dessa via foi sendo desenvolvida nas conferências teóricas
internacionais dos partidos comunistas, realizadas em 1957, 1960 e 1969, e, em
seguida, nas resoluções políticas dos congressos de vários partidos.
Esse desenvolvimento “pacífico” pode revestir-se de formas
diversas. Uma delas é a utilização do Parlamento, obtendo nele uma maioria -
não necessariamente numérica, uma vez que para o marxismo-leninismo o conceito
de maioria é mais rico e complexo: o de “maioria ativa” -, transformando-o e
convertendo-o num instrumento da vontade das “amplas massas”.
Foi isso que aconteceu na Checoslováquia no período de 1945
a 1948, conforme relatado no livro “O Assalto ao Parlamento - A Tomada do Poder
pela Constituinte”, escrito por Jan Kosak, deputado comunista na Assembléia
Constituinte checoslovaca. Nesse livro, ele relata minuciosamente como o
Parlamento de seu país foi levado a desempenhar um papel revolucionário na
transição para o comunismo, derrubando um regime parlamentar que funcionava com
uma maioria não-comunista baseada em princípios democráticos,“transformando o
Parlamento de um órgão a serviço da burguesia em um instrumento criador de
medidas democráticas que conduziram à mudança gradual da estrutura social,
instrumento direto da revolução socialista”. Isso só foi possível graças à
“maioria ativa”.
Além da conquista do Parlamento, os comunistas, na luta pela
chamada “conquista pacífica do poder”, propõem outros objetivos de luta: a
“democratização” do aparelho do Estado, a participação dos operários na gestão
econômica das empresas e a criação de uma opinião pública que limite a
possibilidade da classe dirigente opor resistência à aplicação de uma “política
favorável à maioria do povo”.
O chamado desenvolvimento pacífico da revolução não é,
todavia, um “pic-nic”, uma transformação harmoniosa do capitalismo em
socialismo, uma renúncia voluntária das classes dominantes ao poder político.
Isso equivale a dizer que essa via, de forma alguma, significa a interrupção da
luta de classes ou a diminuição da sua intensidade.
É, basicamente, a combinação de uma “pressão de cúpula”,
desenvolvida a partir do Parlamento e outros órgãos da máquina estatal, com a
“pressão de base”, levada a efeito pela atividade revolucionária das “amplas
massas”. Segundo Lenin escreveu, em 1905, quando da Revolução de Fevereiro, na
Rússia, “restringir, como princípio, as ações revolucionárias às pressões de
base e renunciar às pressões de cúpula é anarquismo”.
Na hipótese de “o governo estabelecido recorrer à violência
contra o povo, a classe operária e as amplas massas serão levadas a atuar
também nesse terreno, para ... assegurar a passagem ao socialismo por meios
pacíficos”. Se invertermos os termos, o significado será o mesmo: “na hipótese
do governo estabelecido recorrer à violência contra a classe operária e as
amplas massas, o povo ver-se-á obrigado a atuar também nesse terreno...”
Luiz Carlos Prestes, quando Secretário-Geral do Partido
Comunista Brasileiro, analisando as causas da derrota das forças democráticas
em março de 1964, declarou: “As possibilidades do chamado caminho pacífico
(...) foram, em geral, erradamente interpretadas por nós, como se a revolução
pudesse ser um processo idílico, sem choques nem conflitos” (“Revista
Internacional” nº 6, junho de 1968).
O leninismo, considerado o “marxismo da época do
imperialismo”, assinala que a eficácia da luta armada é determinada, em cada
caso, pelo grau de maturidade das chamadas “condições objetivas e subjetivas”
do país dado. A luta armada poderá ser considerada objetivamente necessária em
determinadas condições, o que, em absoluto, significará que essa forma de luta
seja a única a ser considerada revolucionária.
É por essa razão que os marxistas-leninistas ortodoxos
condenam os “aventureiros de esquerda”, que enfatizam desmedidamente o emprego
das armas em quaisquer partes e sejam quais forem as circunstâncias,
subestimando a importância da forma de luta “pacífica”.
Segundo Lenin, “desenvolver a democracia até o fim, procurar
as formas desse desenvolvimento, pô-las à prova na prática, é uma das tarefas
essenciais da luta pela revolução social”.
A Conferência Internacional dos Partidos Comunistas,
realizada em 1969, indicou em seu documento final que “na medida em que se
desenvolve a unidade de ação contra o monopólio e contra o imperialismo,
amadurecem as condições favoráveis à coesão de todas as correntes democráticas
numa aliança política capaz de limitar de uma maneira decisiva o papel dos
monopólios na vida econômica do país, de colocar um fim ao poder do grande
capital e de estabelecer um regime que realize transformações políticas e
econômicas radicais, criando, dessa forma, condições mais favoráveis ao
prosseguimento da luta pelo socialismo”.
Finalmente, observa-se que nos programas de diversos
partidos comunistas dos países desenvolvidos ou em desenvolvimento, o lugar
central não cabe à luta imediata pelo socialismo e sim àquelas reivindicações
políticas, econômicas e sociais que tornarão factível essa luta. Esses
partidos, conscientes das necessidades de determinadas etapas na luta pelo
socialismo, definiram como objetivo realista a tomada paulatina do poder
político da burguesia, substituindo-o por uma “democracia contínua”,
susceptível de satisfazer aquilo que denomina de “aspirações das amplas
massas”, sempre dirigidas, é claro, pelo seu partido, o “partido da classe
operária, estado-maior e vanguarda do proletariado”: o Partido Comunista. Ou
seja, a tomada do Poder à la Gramsci.
Esse é o conteúdo da forma de luta “pacífica” da estratégia
para a revolução socialista.
Fonte: Alerta Total
_________________
Carlos I. S. Azambuja é Historiador.
DESEMBARGADOR CONFIRMA LIBERTAÇÃO DE ATIVISTAS PRESOS
Justiça considerou que prisões não foram “devidamente fundamentadas”
Sininho era uma das que continuava presa
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Rio - Os cinco ativistas que continuam presos no Rio desde
sábado, 12 serão soltos. A ordem foi dada na tarde desta sexta-feira, 18 pelo
desembargador Siro Darlan. “As prisões não foram devidamente fundamentadas”,
disse Darlan ao Estado. Na terça-feira, o desembargador já havia determinado a
soltura dos outros 12 manifestantes detidos na operação Firewall, realizada
pela Polícia Civil do Rio, com base na suspeita de crime de formação de
quadrilha.
As prisões foram repudiadas por entidades como OAB-RJ,
Anistia Internacional e Justiça Global. Entre os cinco que continuavam no
presídio de Bangu até o início da noite desta sexta-feira estão a ativista
Elisa Quadros Pinto Sanzi, a Sininho, e a professora Camila Jourdan,
coordenadora do Programa de Pós-graduação em Filosofia da Universidade do
Estado do Rio de Janeiro (Uerj).
Ao todo, foram expedidos 26 mandados de prisão temporária
pela 27.ª Vara Criminal – nove suspeitos não foram localizados pela polícia. Na
decisão que determinou as prisões, o juiz Flávio de Oliveira Nicolau baseou-se
em tipificação criada para combater o crime organizado: “Verifica-se, também,
que há sérios indícios de que está sendo planejada a realização de atos de
extrema violência para os próximos dias, a fim de aproveitar a visibilidade
decorrente da cobertura da Copa do Mundo de futebol, sendo necessária a atuação
policial para impedir a consumação desse objetivo e também para identificar os
demais integrantes da associação”, escreveu o juiz na sexta-feira passada.
A decisão foi criticada pela Associação Juízes para a
Democracia. De acordo com a entidade, a “custódia com base em eventos futuros e
incertos denota cerceamento da liberdade antecedente a prática de qualquer
ilícito, viola os princípios constitucionais de liberdade de expressão e
reunião e coloca o poder Judiciário em situação de subalternidade e auxílio à
arbitrariedade policial, quando seu papel é o de garantidor de direitos”.
A manifestação de domingo reuniu cerca de 400 pessoas e foi
violentamente reprimida pela Polícia Militar. Pelo menos 14 jornalistas que
tentavam registrar as agressões a ativistas foram atacados por PMs. O inquérito
policial está sob segredo de Justiça e seria remetido nesta sexta ao Ministério
Público.
As acusações contra os suspeitos não foram detalhadas pela
Polícia Civil. Na manhã desta sexta, a Justiça Global enviou ofícios ao governo
federal solicitando providências em relação às prisões de manifestantes
ocorridas no dia 12 no Rio. Para a entidade, o inquérito “visa tão só a
desmobilização, deslegitimação, intimidação e criminalização de defensores de direitos
humanos, representando grave violação por parte do Estado do Rio,
principalmente ao tratá-los enquanto associação criminosa”. (Felipe
Werneck/Agência Estado)
Fonte: Diário do Poder
A destruição da inteligência
Por Olavo de Carvalho
Poucas coisas são tão grotescas quanto a coexistência
pacífica, insensível, inconsciente e satisfeita de si, da afetação de
inconformismo com a subserviência completa à autoridade de um corpo docente.
Aprender, imitar e introjetar o vocabulário, os tiques e
trejeitos mentais e verbais da escola de pensamento dominante na sua faculdade
é, para o jovem estudante, um desafio colossal e o cartão de ingresso na
comunidade dos seus maiores, os tão admirados professores.
A aquisição dessa linguagem é tão dificultosa, apelando aos
recursos mais sutis da memória, da imaginação, da habilidade cênica e da
autopersuasão, que seria tolo concebê-la como uma simples conquista
intelectual. Ela é, na verdade, um rito de passagem, uma transformação
psicológica, a criação de um novo “personagem”, apoiado no qual o estudante se
despirá dos últimos resíduos da sentimentalidade doméstica e ingressará no
mundo adulto da participação social ativa.
É quase impossível que essa identificação profunda com o
personagem aprendido não seja interpretada subjetivamente como uma concordância
intelectual, ao ponto de que, no instante mesmo em que repete fielmente o
discurso decorado, ou no máximo faz variações em torno dele, o neófito jure estar
“pensando com a própria cabeça” e “exercendo o pensamento crítico”.
A imitação é, com certeza, o começo de todo aprendizado, mas
ela só funciona porque você imita uma coisa, depois outra, depois uma
infinidade delas, e com a soma dos truques imitados compõe no fim a sua própria
maneira de sentir, pensar e dizer.
No aprendizado da arte literária isso é mais do que patente.
O simples esforço de assimilar auditivamente a maneira, o tom, o ritmo, o
estilo de um grande escritor já é uma imitação mental, uma reprodução interior
daquilo que você está lendo. A imitação torna-se ainda mais visível quando você
decora e declama poemas, discursos, sermões ou capítulos de uma narrativa.
Porém nas suas primeiras investidas na arte da escrita é impossível que você não
copie, adaptando-os às suas necessidades expressivas, os giros de linguagem que
aprendeu em Machado de Assis, Eça de Queiroz, Camilo Castelo Branco, Balzac,
Stendhal e não sei mais quantos. Esse exercício, se você é um escritor sério,
continua pela vida a fora. Quando conheci Herberto Sales – que Otto Maria
Carpeaux julgava o escritor dotado de mais consciência artística já nascido
neste país –, ele estava sentado no saguão do Hotel Glória com um volume de
Proust e um caderninho onde anotava cada solução expressiva encontrada pelo
romancista, para usá-la a seu modo quando precisasse. Já era um homem de
setenta e tantos anos, e ainda estava praticando as lições do velho Antoine
Albalat.[1] É assim, por acumulação e diversificação dos recursos aprendidos, que
se forma, pari passu com a evolução natural da personalidade, o estilo pessoal
que singulariza um escritor entre todos. T. S. Eliot ensinava que um escritor
só é verdadeiramente grande quando nos seus escritos transparece, como em
filigrana, toda a história da arte literária.
Em outros tipos de aprendizado, a imitação é ainda mais
decisiva. Nas artes marciais e na ginástica, quantas vezes você não tem de
repetir o gesto do seu instrutor até aprender a produzi-lo por si próprio! Na
música, quantas performances magistrais o pianista não aprende de cor até
produzir a sua própria!
Nas ciências e na tecnologia, o manejo de equipamentos
complexos nunca se aprende só em manuais de instrução: o aluno tem de ver e
imitar o técnico mais experiente, num processo de assimilação sutil que
engloba, em doses consideráveis, a transmissão não-verbal. [2]
Por que seria diferente na filosofia? Compreender uma
filosofia não se resume nunca em ler as obras de um filósofo e julgá-las
segundo uma reação imediata ou as opiniões de um professor. É impregnar-se de
um modo de ver e pensar como se ele fosse o seu próprio, é olhar o mundo com os
olhos do filósofo, com ampla simpatia e sem medo de contaminar-se dos seus
possíveis erros. Se desde o início você já lê com olhos críticos, buscando
erros e limitações, o que você está fazendo é reduzir o filósofo à escala das
suas próprias impressões, em vez de ampliar-se até abranger o “universo” dele.
Erros e limitações não devem ser buscados, devem surgir naturalmente à medida
que você assimila novos e novos autores, novos e novos estilos de pensar,
pesando cada um na balança da tradição filosófica e não da sua incultura de
principiante. Não seria errado dizer que, entre outros critérios, um professor
de filosofia deve ser julgado, sobretudo, pelo número e variedade dos autores,
das escolas de pensamento, das vias de conhecimento que abriu em leque para que
seus estudantes as percorressem.[3]
Não é preciso mais exemplos. Em todos esses casos, a
imitação é o gatilho que põe em movimento o aprendizado, e em todos esses casos
ela não se congela em repetição servil porque o aprendiz passa de modelo a
modelo, incorporando uma diversidade de percepções e estilos que acabarão
espontaneamente se condensando numa fórmula pessoal, irredutível a qualquer dos
seus componentes aprendidos.
Mas o que acontece se, em vez disso, o aluno é submetido,
por anos a fio, à influência monopolística de um estilo de pensamento
dominante, aliás muito limitado no seu escopo e na sua esfera de interesses, e
adestrado para desinteressar-se de tudo o mais sob a desculpa de que “não é
referência universitária”?
Se durante quatro, cinco ou seis anos você é obrigado a
imitar sempre a mesma coisa, e ainda temendo que o fracasso em adaptar-se a ela
marque o fim da sua carreira universitária, a imitação deixa de ser um
exercício temporário e se torna o seu modo permanente de ser – um “hábito”, no
sentido aristotélico.
É como um ator que, forçado a representar sempre um só
personagem, não só no palco mas na vida diária, acabasse incapaz de se
distinguir dele e de representar qualquer outro personagem, inclusive o seu
próprio. Pirandello explorou magistralmente essa situação absurda na peça
Henrique IV, onde um milionário louco, imaginando ser o rei, obriga os
empregados a comportar-se como funcionários da côrte, até que eles acabam se
convencendo de que são mesmo isso.
Toda imitação depende de uma abertura da alma, de uma
impregnação empática, de uma suspension of disbelief em que o outro deixa de
ser o outro e se torna uma parte de nós mesmos, sentindo com o nosso coração e
falando com a nossa voz. Se praticamos isso com muitos modelos diversos, sem
medo das contradições e perplexidades, nossa mente se enriquece ao ponto do
nihil humanum a me alienum, daquela universalidade de perspectivas que nos
liberta do ambiente mental imediato e nos torna juízes melhores de tudo quanto
chega ao nosso conhecimento. Não é errado dizer que o julgamento honesto e
objetivo depende inteiramente da variedade dos pontos de vista, contraditórios
inclusive, que podemos adotar como “nossos” no trato de qualquer questão.
Em contrapartida, o enrijecimento da alma num papel fixo
abusa da capacidade de imitação até corrompê-la e extingui-la por completo,
bloqueando toda possibilidade de abertura empática a novos personagens, a novos
estilos, a novos sentimentos e modos de ver.
Habituado a tomar como referência única o conjunto de livros
e autores que compõe o universo mental da esquerda militante, e a olhar com
temerosa desconfiança tudo o mais, o estudante não só se fecha num
provincianismo que se imagina o centro do mundo, mas perde realmente a
capacidade de aprendizado, tornando-se um repetidor de tiques e chavões,
caquético antes do tempo.
Quem não sabe que, no meio acadêmico brasileiro, a receita
uniforme, há mais de meio século, é
Marx-Nietzsche-Sartre-Foucault-Lacan-Derrida, não se admitindo outros
acréscimos senão os que pareçam estender de algum modo essa tradição, como
Slavoj Zizek, Istvan Meszaros ou os arremedos de pensamento que levam, nos EUA,
o nome de “estudos culturais”?
Daí a reação de horror sacrossanto, de ódio irracional, não
raro de repugnância física, com que tantos estudantes das nossas universidades
reagem a toda opinião ou atitude que lhes pareça antagônica ao que aprenderam
de seus professores. Não que estejam realmente persuadidos, intelectualmente,
daquilo que estes lhes ensinaram. Se o estivessem, reagiriam com o intelecto,
não com o estômago. O que os move não é uma convicção profunda, séria,
refletida: é apenas a impossibilidade psicológica de desligar-se, mesmo por um
momento, do “eu” artificial aprendido, cuja construção lhes custou tanto
esforço, tanto investimento emocional.
Justamente, a convicção intelectual genuína só pode nascer
da experiência, do longo demorado com os aspectos contraditórios de uma
questão, o que é impossível sem uma longa resignação ao estado de dúvida e
perplexidade. A intensidade passional que se expressa em gritos de horror, em
insultos, em afetações de superioridade ilusória, marca, na verdade, a
fragilidade ou ausência completa de uma convicção intelectual. A construção em
bloco de um personagem amoldado às exigências sociais e psicológicas de um
ambiente ideologicamente carregado e intelectualmente pobre fecha o caminho da
experiência, portanto de todo aprendizado subseqüente.
A irracionalidade da situação é ainda mais enfatizada porque
o discurso desse personagem o adorna com o prestígio de um rebelde, de um
espírito independente em luta contra todos os conformismos. Poucas coisas são
tão grotescas quanto a coexistência pacífica, insensível, inconsciente e
satisfeita de si, da afetação de inconformismo com a subserviência completa à
autoridade de um corpo docente.
No auge da alienação, o garoto que passou cinco anos
intoxicando-se de retórica marxista-feminista-multiculturalista-gayzista nas
salas de aula, que reage com quatro pedras na mão ante qualquer palavra que
antagonize a opinião de seus professores esquerdistas, jura, depois de ler uns
parágrafos de Bourdieu para a prova, que a universidade é o “aparato de
reprodução da ideologia burguesa”. Aí já não se trata nem mesmo de “paralaxe
cognitiva”, mas de um completo e definitivo divórcio entre a mente e a
realidade, entre a máquina de falar e a experiência viva.
Se, conforme se observou em pesquisa recente, cinqüenta por
cento dos nossos estudantes universitários são analfabetos funcionais[4] – não
havendo razão plausível para supor que a quota seja menor entre seus
professores mais jovens –, isso não se
deve somente a uma genérica e abstrata “má qualidade do ensino”, mas a um
fechamento de perspectivas que é buscado e imposto como um objetivo desejável.
Não que a presente geração de professores que dá o tom nas
universidades brasileiras tenha buscado, de maneira consciente e deliberada, a
estupidificação de seus alunos. Apenas, iludidos pelo slogan que os qualificava
desde os anos 60 do século XX como “a parcela mais esclarecida da população”,
tomaram-se a si próprios como modelos de toda vida intelectual superior e
acharam que, impondo esses modelos a seus alunos, estavam criando uma plêiade
de gênios. Medindo-se na escala de uma grandeza ilusória, incapazes de enxergar
acima de suas próprias cabeças, tornaram-se portadores endêmicos da síndrome de
Dunning-Kruger[5] e a transmitiram às novas gerações. Os cinqüenta por cento de
analfabetos funcionais que eles produziram são a imagem exata da sua síntese de
incompetência e presunção.
Fonte: Mídia Sem Máscara
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Notas:
[1] V. Antoine Albalat, La Formation du Style par
l'Assimilation des Auteurs (Paris, Alcan, 1901).
[2] V. sobre isso as considerações de Theodore M. Porter em
Trust in Numbers. The Pursuit
of Objectivity in Science and Public Life,
Princeton University Press, 1995, pp. 12-17.
[3] Digo isso com a consciência tranqüila de haver cumprido
esse dever. Ao longo dos anos, introduzi no espaço mental brasileiro mais
livros e autores essenciais do que todos
os corpos docentes de faculdades de filosofia neste país, somados aos
“formadores de opinião” da mídia popular. Em vez de me agradecer, ou de pelo
menos ter a sua curiosidade despertada pela súbita abertura de perspectivas,
estudantes e professores, com freqüência, me acusaram de “citar autores
desconhecidos” – dando por pressuposto que tudo o que é ignorado no seu
ambiente imediato é desconhecido do resto do mundo e não tem a mais mínima
importância.
[4] V.
http://www.folhapolitica.org/2014/02/pesquisador-conclui-que-mais-da-metade.html.
[5] Efeito Dunning-Kruger: incapacidade de comparar
objetivamente as próprias habilidades com as dos outros. “Quanto menos você
sabe sobre um assunto, menos coisas acredita que há para saber.” V. David McRaney, You Are Not So
Smart, London, Oneworld Publications, 2012, pp. 78-81.